Título: Bolsas globais disparam com melhora de percepção sobre bancos
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2008, Economia, p. B4
Emissão do Lehman Brothers e notícias sobre UBS e Deutsche Bank fazem Dow Jones subir 3,19% e Ibovespa, 2,96%
As bolsas de valores globais tiveram ontem o melhor pregão em duas semanas, estimuladas por notícias relacionadas ao setor bancário dos Estados Unidos e da Europa. O otimismo nas mesas de operação foi tamanho que alguns analistas chegaram a afirmar que o pior da crise de crédito já passou. Outros preferiram a cautela e não descartaram a volta do mau humor.
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O Índice Dow Jones disparou 3,19% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 3,67%. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) avançou 2,96%. Na Europa, o Índice Xetra-Dax, da Bolsa de Frankfurt, subiu 2,84% e o FTSE, da Bolsa de Londres, 2,64%.
A primeira informação que animou os investidores foi o resultado da oferta de ações preferenciais do banco de investimentos americano Lehman Brothers. A instituição levantou US$ 4 bilhões na operação, valor que superou as estimativas de seus próprios executivos (de US$ 3,45 bilhões).
¿Isso mostra que ainda existe liquidez no mundo e há demanda por papéis do setor financeiro¿, disse o economista-chefe do banco WestLB no Brasil, Roberto Padovani. O caso é emblemático porque, na semana passada, o Lehman Brothers foi alvo de rumores de que poderia seguir a mesma trilha do Bear Stearns - que sucumbiu à crise e acabou incorporado pelo JP Morgan, após uma negociação intermediada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Ontem, aliás, o Fed aprovou oficialmente a transação.
Outra notícia bem recebida pelos mercados veio do banco suíço UBS. A instituição afirmou que espera anunciar no primeiro trimestre perdas líquidas de US$ 12,1 bilhões, em razão de baixas contábeis de US$ 19,15 bilhões. O banco disse também que emitirá papéis em um valor de US$ 15,1 bilhões.
Esse esforço de capitalização segue-se a uma injeção de recursos do fundo soberano de Cingapura e de um investidor não revelado do Oriente Médio, além de outras medidas adotadas no começo do ano. Juntas, cobrem os US$ 19,15 bilhões de perdas contábeis decorrentes da crise no mercado de hipotecas de alto risco (subprime) dos EUA.
O Deutsche Bank, maior banco alemão pelo critério de valor de mercado, revelou que deverá registrar novas perdas contábeis de 2,5 bilhões (US$ 3,9 bilhões) no primeiro trimestre, também relacionadas a prejuízos na área de hipotecas.
Em vez de assustar, o UBS e o Deutsche aliviaram os investidores. ¿A esperança é de que o pior da crise de crédito tenha ficado para trás¿, comentou Andrea Kramer, analista da Schaeffer¿s. ¿Se espera que o período de depreciações dos ativos de bancos tenha alcançado seu pico¿, acrescentou Al Goldman, analista da AG Edwards.
Padovani está entre os especialistas que preferiram não cravar o 1º de abril como o dia da virada nos mercados. ¿Ainda não se sabe o tamanho exato da crise nos bancos e, conseqüentemente, no crédito¿, observou. Ele reconheceu, no entanto, que as últimas semanas trouxeram várias boas notícias, entre elas a posição do Fed ante a iminente quebra do Bear Stearns.
O economista do Banco Santander Maurício Molan vê na atuação do Fed a raiz para a melhora que turbinou as bolsas ontem. Mas, como Padovani, prefere a prudência. ¿O risco no lado real da economia ainda é alto. Devemos ter más notícias nos próximos três meses, ao menos¿, disse. ¿Só me sentirei confortável quando dados da economia real e preços de casas nos EUA pararem de cair.¿ COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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