Título: Crise reaviva rivalidade Lula-FHC
Autor: Samarco, Christiane; Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2008, Nacional, p. A8

Com dossiê, petista e tucano voltam a se posicionar em extremos opostos

Quando deixou o poder, depois de oito anos na Presidência da República, Fernando Henrique Cardoso disse a amigos que iria agir como ex-presidente, falando apenas sobre temas institucionais. Passados cinco anos de governo Lula, diante do vácuo de lideranças, até no próprio partido, o tucano acabou se tornando uma voz da oposição.

Entre os peessedebistas, FHC comandou a reação contra os mensaleiros e a indignação contra os aloprados. Agora, o ex-presidente tomou a iniciativa de pedir a abertura dos gastos de seu governo e chamou para si a guerra dos gastos com os cartões de crédito da Presidência da República. Tanta disposição para o combate poderia também ser explicada pela necessidade que tem o ex-presidente de defender o legado de seus dez anos no poder, aqui e ali ameaçado pelos ataques petistas.

No Planalto, Fernando Henrique Cardoso é tido como o oposicionista a ser combatido. Apesar das diferenças políticas, Lula tem boas relações com os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, e até já deu carona no avião presidencial para o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM). Com seu antecessor, porém, as relações azedaram. Para os principais assessores do Palácio do Planalto, por trás da postura mais dura da oposição estaria sempre o ex-presidente tucano.

No caso do escândalo do mensalão, foi atribuída a FHC, em aliança com o então presidente do DEM, Jorge Bornhausen (SC), a estratégia de desmitificar o PT como partido ético, por um lado, deixando que o presidente Lula ficasse politicamente exposto.

No episódio do dossiê Vedoin, na campanha de 2006, quando petistas foram acusados de elaborar dossiê contra tucanos, FHC também foi duro. Subiu ao palanque do então candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, e fez ataques contundentes. Lula não perdoou a atuação de FHC. O petista esperava que o ex-presidente adotasse uma postura de equidistância no jogo político, o que não aconteceu.

COMPARAÇÃO

Mas Lula soube tirar vantagem ao perceber que a polarização com FHC, do ponto de vista eleitoral, não era ruim. Ao contrário. Passou a comparar o seu governo com o de FHC, afirmando que, embora não fosse tão letrado quanto seu antecessor, sabia governar melhor.

Agora, o embate entre os dois volta a ficar acirrado com a divulgação dos gastos de integrantes do governo FHC com cartões corporativos. E, mais uma vez, o presidente Lula parece estar levando vantagem.

Na mais recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI)/Ibope, divulgada na quinta-feira, Lula bateu recorde de popularidade. ¿Não fico surpreso com mais nada no Brasil¿, reagiu o ex-presidente.

Símbolo maior do PT, Lula tentou por várias vezes - sempre em momentos de crise - se ¿descolar¿ do partido, principalmente na época do escândalo do mensalão, em 2005. Acabava sendo chamado a resolver questiúnculas petistas. Agindo de acordo com sua conveniência, o presidente tem mostrado que, quanto mais batem nele, mais ele cresce. E está rindo à toa.

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