Título: Inflação se dissemina e aumenta a pressão de serviços e bens industriais
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2008, Economia, p. B9
Índice de difusão, que acompanha itens com variação positiva no IPCA, subiu de 58,79% em 2007 para 61,63%
A disseminação da inflação por produtos e serviços está aumentando progressivamente desde o início do ano passado. É o que mostram os dados compilados pelo Banco Central (BC). No período, a difusão de aumentos passou de perto de 57% dos itens pesquisados no IPCA para quase 62% do total.
Economistas que acompanham a evolução da inflação avaliam que a taxa deste ano será menos concentrada no grupo de alimentos do que no ano passado, com maior pressão em preços de serviços e produtos industriais.
Na prática, o vigor da demanda interna acaba favorecendo um maior reajuste de preços por mais itens da economia. O diretor de Política Econômica do banco, Mário Mesquita, reconhece que a chamada ¿difusão¿ tem de fato aumentado.
Mesquita, que esteve no Rio anteontem para divulgar o Relatório de Inflação da instituição, explica que o trabalho do Banco Central é impedir a consolidação dessa tendência e uma inflação mais disseminada na economia. O último relatório da instituição, divulgado semana passada, aborda o assunto.
¿O índice de difusão, indicador da proporção do número de itens que apresentou variação positiva no IPCA, registrou média de 61,63% no trimestre encerrado em fevereiro, ante 59,03% no trimestre setembro a novembro e 58,79% em 2007, evidenciando a elevação da disseminação dos aumentos nos preços¿, registra o documento. Em janeiro de 2003, a linha de tendência da difusão chegou ao maior pico recente (67%) e vinha caindo desde então.
O coordenador de análise econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, explica que os alimentos pesarão menos na inflação, mas poderão, ainda, representar possivelmente uma influência importante no indicador no ano.
¿No ano passado a inflação dos alimentos foi perto dos 10%, quase três vezes a variação do resto da cesta de produtos e serviços. Para este ano, os aumentos vão ser mais generalizados¿, afirma o coordenador.
Quadros chama a atenção, por exemplo, para o fato de que produtos industriais vão gerar uma pressão adicional este ano. Quanto ao risco de o BC elevar juros, ele afirma que o espaço para a instituição ficar ¿apenas vigilante¿ está se reduzindo.
¿Talvez tenha de partir para a ação, embora eu ache que ainda não é o momento. A inflação até já está ultrapassando ligeiramente a meta, mas não deve ultrapassar muito, não há mais muita margem de manobra¿, comenta.
¿Ter uma inflação mais espalhada é mais arriscado e acaba sendo mais um motivo de preocupação para o Banco Central¿, explica o responsável pela área de inflação do Grupo de Conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Eduardo Thadeu de Freitas Filho.
Ele diz que a a inflação de serviços está num nível ¿desconfortável¿, acima da média do IPCA. No ano passado, esta taxa fechou em 5,1%, acima da média da inflação, deverá passar para 5,3% este ano e chegar a 5,5% no próximo ano.
Um levantamento de dados feito pelo IE/UFRJ mostra como foi a gangorra da inflação nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro. Por produtos, a maior das variações no grupo de alimentos chegou a 202,26%, no caso do feijão carioca e a 105,13% para o feijão preto. No grupo de serviços, mão-de-obra avançou 10,76%, curso supletivo, 10,54% e depilação, 10,50%.
Já nas reduções de preços, chamam a atenção as variações negativas no grupo de produtos duráveis no período: aparelho de DVD -15,63%, microcomputador -13,93%, televisor -11,38%, aparelho telefônico -6,56% e forno de microondas -5,95%.
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