Título: Governistas acusam tucano de vazar dados sigilosos e querem ouvi-lo na CPI
Autor: Lopes, Eugênia; Fontes, Cida
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2008, Nacional, p. A4

Estratégia da base aliada e blindar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e colocar oposição na defensiva

A confissão do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), de que teve acesso ao dossiê com dados sobre gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua família, serviu de mote para o governo tentar desviar o foco da CPI dos Cartões. Os parlamentares da base aliada acusaram Dias de ter divulgado as informações sigilosas com ¿objetivos eleitorais¿ e para atingir a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Fórum: Quem ganha e quem perde com a CPI dos cartões

O senador tucano reagiu e disse que o governo está tentando ou ¿intimidar¿ a oposição ou ¿confundir a opinião pública¿. Ele admitiu, contudo, ter tomado conhecimento antecipado do dossiê. ¿Da minha parte, na segunda-feira, logo após a circulação da revista Veja no domingo (23 de março), desta tribuna afirmei que tinha visto o dossiê. Eu vi¿, afirmou Álvaro Dias.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a dizer que o ¿banco de dados do Palácio do Planalto foi espionado¿. Os governistas querem, agora, que o tucano vá à CPI dos Cartões para explicar onde conseguiu o dossiê. ¿A oposição passou de vítima a algoz. O governo foi vítima de acusações levianas. Foi uma jogada que tinha objetivos eleitorais¿, acusou Jucá.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) ironizou a oposição, dizendo que ¿nenhum papel voa¿ sozinho. ¿Até pode voar um pouquinho se houver uma janela aberta. Agora, se teve papel circulando aqui, como está declarado, alguém portava esses papéis, alguém tinha esses tais documentos na mão, e o senador Álvaro Dias foi lá na tribuna e reconheceu que viu.¿

Ela, Jucá e parlamentares da base aliada na CPI dos Cartões se empenharam ontem em difundir a tese de que as informações sobre os gastos de Fernando Henrique ¿foram subtraídas¿ do banco de dados da Presidência e ¿passadas à oposição¿.

¿O senador Álvaro Dias pode explicar como esse dossiê foi organizado. Eles (oposição) podem ter gente com acesso ao Suprim, o banco de dados da Presidência¿, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos integrantes da tropa de choque do governo na CPI. ¿O senador Álvaro Dias tem a obrigação moral e ética de informar como conseguiu esses dados¿, cobrou o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da comissão de inquérito. E argumentou: ¿Por que ele não denunciou isso antes?¿

SINDICÂNCIA

O Estado revelou no dia 19 de fevereiro que o governo estava montando um dossiê com os dados do governo FHC (1995-2002). Duas semanas atrás, a revista Veja revelou detalhes dos documentos coletados.

Desde então, o governo ficou na berlinda. Agora, com a confissão de Dias de que teve acesso ao dossiê, os governistas tentam mudar o foco da discussão em torno do mau uso dos cartões corporativos. Uma sindicância foi aberta no Palácio do Planalto para localizar o autor e mandante do dossiê. Até ontem as investigações não haviam avançado.

Em pronunciamento na tribuna do Senado, Dias negou ter divulgado as informações sobre gastos do governo FHC com o cartão corporativo. ¿Quem vazou está no Palácio do Planalto. Não me cabe revelar quem foi o responsável pela divulgação. O que me cabe é cobrar do governo providências em relação a mais este escândalo¿, disse o tucano. E completou: ¿Seria impossível que eu pudesse estar urdindo nas barbas do presidente Lula um dossiê. Que busque um responsável por isso.¿

Líderes da base aliada cobraram de Dias que revele o nome da pessoa que lhe deu o dossiê. A suspeita é de que seria um funcionário da Casa Civil. ¿Não adianta o PSDB apresentar requerimento para acompanhar a comissão de sindicância do Palácio do Planalto. Está nas mãos do senador Álvaro Dias dizer quem lhe mostrou o documento, quem lhe deu o documento¿, disse Ideli. ¿Essa discussão é surrealista: se o senador Álvaro Dias é fonte ou não da imprensa¿, rebateu o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

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