Título: Cada um fala o que quer, diz Lula sobre 3º mandato
Autor: Leal, Luciana Nunes; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2008, Nacional, p. A6

Um dia após declaração de Alencar em favor da tese, presidente afirma que não vai entrar nesse debate porque tem ¿coisa mais séria para fazer¿

Um dia depois de o vice-presidente José Alencar defender a tese do terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que tem ¿coisa mais séria para fazer¿ do que discutir as possibilidades de continuar no poder depois de 2010. Lula se disse preocupado em viajar pelo País para acompanhar de perto as obras do Programa de Aceleração do crescimento (PAC) e falou, por fim, em ¿descansar¿ depois que encerrar o segundo governo.

¿Eu digo para vocês que, se perguntar para os brasileiros o que os brasileiros desejam, é que o Lula fique por mais tempo no poder¿, declarou Alencar anteontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes. Ele chegou a comparar Lula ao presidente americano Franklin Roosevelt (1933-1945). O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) anunciou, em seguida, intenção de pedir um plebiscito sobre o terceiro mandato.

Questionado ontem sobre a entrevista do vice, Lula respondeu: ¿Cada um fala o que quer. Eu não vou entrar nesse debate porque eu tenho coisa mais séria para fazer. O meu papel agora, até 2010, é fazer vocês viajarem mais comigo para acompanhar as obras do PAC.¿

O presidente rebateu as acusações da oposição de que antecipa o debate eleitoral, ao cumprir uma maratona de viagens para visitar obras e lançar programas assistenciais. ¿Sou o cidadão mais cansado de eleição. Se tem uma coisa que eu não gostaria de fazer era discutir eleição, porque cansei¿, disse. ¿Chega, né? Quero descansar.¿

Na mesma linha defendida por Lula, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que não há ambiente no Congresso para votar um projeto que estabeleça o terceiro mandato ou proponha um plebiscito. ¿Respeito as opiniões políticas existentes, mas isso não prospera. Não vejo clima para prosperar.¿

Chinaglia lembrou que na Câmara há vários projetos para acabar com a possibilidade de reeleição, que teriam mais possibilidade ir a voto.

POLÊMICA

Um dos 40 denunciados ao Supremo Tribunal Federal por envolvimento no escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) disse, em seu blog, que a Constituição não proíbe um novo mandato, tanto que o PSDB e o antigo PFL, hoje DEM, conseguiram aprovar um segundo mandato para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. ¿Para FHC mudaram as regras do jogo ao término do segundo tempo e nada. Só para Lula é que é golpe e inconstitucional¿, declarou o petista.

Apesar do argumento de que não haveria empecilho constitucional para um eventual terceiro mandato de Lula, o ex-ministro reconhece que a proposta esbarra em um problema político: ¿É a inconveniência e o irrealismo políticos de se propor uma alteração constitucional dessa envergadura na situação política atual e na correlação de forças que temos no País¿.

Mesmo assim reiterou: ¿Nada impede que a Constituição seja mudada para permitir um terceiro mandato. Aí caberia ao STF se pronunciar sobre a constitucionalidade da mudança e não à mídia ou à oposição.¿

`CASUÍSMO¿

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), considerou as declarações de Alencar como ¿casuísmo¿. Para o tucano, o vice-presidente só vem corroborar uma atitude ¿pró-campanha¿ do governo. ¿A tese é um casuísmo que, ao meu ver, não vai prosperar. Agora, a simples enunciação da tese já contribui para esquentar ritmos de campanha que não deviam estar existindo agora¿, disse Serra. ¿Acho que o governo, em geral, tem tido uma atitude pró-campanha. Aliás, a própria declaração do Alencar joga água nesse moinho. Não acho isso bom.¿

Links Patrocinados