Título: Farc recusam-se a libertar Ingrid sem que Bogotá solte guerrilheiros
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2008, Internacional, p. A16

Declaração de `chanceler¿ da guerrilha põe fim às esperanças de resgate imediato de refém doente na selva

Duas mensagens da guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) jogaram ontem um balde de água fria nas esperanças - que até então cresciam em Bogotá - de uma solução satisfatória para o drama da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. Uma delas veio do ¿chanceler¿ das Farc, Rodrigo Granda, que descartou qualquer possibilidade de libertação humanitária de Ingrid sem uma troca de reféns por guerrilheiros presos pelo governo. ¿Que ninguém pose de inocente, pois todos os cativos (os reféns) são responsáveis pelo acirramento da guerra. E nenhum está em piores condições do que Simon Trinidad ou Sónia¿, acrescentou, referindo-se a dois graduados membros das Farc extraditados para os EUA e condenados por seqüestro e tráfico de drogas.

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O segundo mau sinal das Farc veio por meio de uma mensagem enviada à agência de notícias Anncol, ligada à guerrilha. Nela, as Farc afastam a possibilidade de entregar Ingrid, que também tem cidadania francesa, à missão da França, Espanha e Suíça que chegou ontem ao país. ¿Até mesmo para uma libertação unilateral, seria necessário que as partes chegassem a um acordo pelo menos para estabelecer um mecanismo de segurança¿, dizem as Farc. ¿É estranho que o presidente (francês) Nicolas Sarkozy seja tão ingênuo e o CICR (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) o acompanhe numa aventura tão perigosa.¿

`POUCO CONFIÁVEL¿

A nota das Farc também qualifica Sarkozy de ¿pouco confiável¿ e lembra que um telefonema de mediadores franceses permitiu ao Exército colombiano rastrear a localização do número 2 das Farc, Raúl Reyes, e lançar em março o ataque em território equatoriano que causou sua morte e a de outros 24 rebeldes.

Um avião francês equipado para prestar socorro médico a Ingrid chegou na madrugada de ontem à base aérea de Catam, em Bogotá. Com isso, muitos colombianos chegaram a acreditar que algum acordo secreto havia sido acertado e a libertação seria iminente. A missão européia reuniu-se à tarde com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, mas nada de concreto sobre o encontro foi revelado.

¿Há uma série de boatos, que foram crescendo a partir da declaração de Sarkozy de que enviaria o avião¿, diz Rafael Vázquez, jornalista de El Tiempo, o maior jornal da Colômbia. ¿Segundo esses rumores, o Exército estaria pronto para desfechar uma operação de resgate, Ingrid estaria à beira da morte ou até teria morrido. Mas não há nenhuma fonte que confirme essas informações. O mais aterrorizante é que também não há ninguém que desminta esses rumores.¿

A refém de 46 anos, em poder das Farc desde fevereiro de 2002, tem leishmaniose e hepatite B. Segundo relatos de moradores locais, Ingrid foi levada a um povoado do Departamento de Guaviare, no centro-sul do país, para tratamento num centro médico local. Informações de Guaviare indicam que ela precisa urgentemente de uma transfusão de sangue. A recusa das Farc pode significar uma sentença de morte.

¿É natural que uma negociação e uma eventual ação humanitária para retirar Ingrid das mãos das Farc sejam cercadas de sigilo e mistério¿, disse ao Estado Juan Luis Vivas, professor de ciências políticas da Universidade Católica Javeriana. ¿Não sei como essa história terminará, mas é possível afirmar que o caso de Ingrid pôs as Farc em xeque. Ou arcam com o ônus político, com todas as conseqüências para sua imagem internacional, da morte de uma refém como Ingrid ou aceitam abrir mão de uma prisioneira que é um de seus principais trunfos na queda-de-braço com o governo.¿

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, definiu como ¿extremamente complicada¿ a missão humanitária francesa. ¿Oxalá essa missão chegasse (até Ingrid), mas onde chegará? Onde?¿

Ainda ontem, a senadora Piedad Córdoba divulgou um vídeo do ex-congressista Óscar Tulio Lizcano, seqüestrado pelas Farc há mais de sete anos. Lizcano pede que Chávez o tire do cativeiro.

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