Título: Paris admite que missão era incerta
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2008, Internacional, p. A16

França reconhece que deu início à operação sem sinal verde das Farc

Nada garantia o sucesso da operação humanitária para levar atendimento médico a Ingrid Betancourt quando o Falcon 50 da Força Aérea francesa partiu em direção à base de Catam, em Bogotá, na Colômbia. A ação, ordenada pelo Palácio do Eliseu, foi um gesto diplomático com a anuência do presidente colombiano, Álvaro Uribe, mas ainda sem o aval do comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que mantém a ex-candidata à presidência em cativeiro na selva há seis anos.

A incerteza sobre a resposta dos revolucionários era um dos componentes que tornavam a missão humanitária ¿muito sensível¿, como definiu o governo francês na quarta-feira. Ao longo da semana, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, entrou em contato com Uribe para obter o aval para a operação e reiterar sua disposição de oferecer asilo aos guerrilheiros que fossem libertados pela Colômbia. Além disso, buscou garantias para a negociação que tentava obter com as Farc: a suspensão das operações militares em torno da área do suposto atendimento médico e a promessa de que as tropas guerrilheiras envolvidas na missão não fossem alvos de ataques militares.

Do outro lado, os interlocutores do Ministério das Relações Exteriores com a Colômbia intensificaram os contatos com a guerrilha tentando assegurar, antes mesmo da partida do vôo, o diálogo com representantes das Farc. Ainda sem uma resposta afirmativa, o Falcon 50 partiu da França, abasteceu na Martinica e seguiu para a Colômbia.

Sarkozy confirmou ontem, em Bucareste, na Romênia, onde participa da cúpula da Otan, que as negociações prosseguiam. ¿Tenho notícias (sobre a operação), mas levando em consideração a delicadeza do tema, não quero comentar nada a respeito¿, disse.

Um dos entraves para as negociações é a desconfiança das Farc em relação à atitude do governo da Colômbia. Foram ligações a Raúl Reyes, número 2 do grupo, feitas por um dos emissários franceses, o ex-cônsul em Bogotá Noël Saez - e não pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez -, que permitiram ao Exército colombiano localizar o acampamento dos guerrilheiros no Equador, em 1º de março, e lançar uma operação militar que matou Reyes.

Ontem, em Paris, havia o temor do fracasso da missão. De toda forma, ainda que o comando guerrilheiro vete o acesso de médicos e dos mediadores à região de San José del Guaviare, no sudeste da Colômbia - onde se imagina que Ingrid esteja -, a França pretende mostrar ao mundo ter feito todos os esforços possíveis pela libertação da refém.

Hoje, às 11h30 (6h30 de Brasília), em Paris, Lorenzo Betancourt-Delloye, filho mais novo de Ingrid, lerá uma mensagem à mãe na Rádio France Internacional (RFI). A expectativa é de que isso possa animar a refém, que estaria em greve de fome desde 23 de fevereiro e sofreria de hepatite B, leishmaniose, malária e depressão.

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