Título: Maior exportação exige melhor infra-estrutura
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2008, Editoriais, p. A2

3 de Abril de 2008 - saldo da balança comercial voltou a causar preocupações. Os dados relativos ao primeiro trimestre, divulgados anteontem pela Secretaria de Comércio Exterior, funcionaram como autêntico sinal de alerta, já que foi o menor saldo desde os três primeiros meses de 2002. Na verdade, o forte crescimento das importações derrubou o superávit acumulado neste ano para US$ 2,8 bilhões, quando alcançara US$ 8,72 bilhões no primeiro trimestre de 2007. A intensidade da queda foi muito alta, alcançando 67,4%. Observando-se isoladamente o mês de março, o quadro piora: a balança comercial nesse mês registrou saldo de apenas US$ 1,1 bilhão. No trimestre, as exportações aumentaram 13,8%, alcançando US$ 38,6 bilhões, mas as importações subiram 41,8%, batendo em US$ 35,8 bilhões. A rigor, no mês de março, o valor das exportações já foram menores em números absolutos em relação ao mesmo mês de 2007, US$ 12,6 bilhões no mês passado, ante US$ 12,9 bilhões. Na média diária de vendas, em março ocorreu aumento de 7,5% em relação ao mesmo período de 2007, mas as importações na mesma referência aumentaram 33,2%. O governo reagiu a estes números, garantindo que sua maior preocupação é "aumentar as exportações". No ano passado, o superávit comercial brasileiro atingiu US$ 40,03 bilhões. Especialistas do mercado financeiro, ouvidos semanalmente pelo Banco Central, estimam que neste ano o saldo não ultrapassa US$ 22,5 bilhões. A Confederação Nacional da Indústria tem perspectiva um pouco mais otimista, mas não arrisca nada superior a US$ 25 bilhões. Já os técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, reafirmam a aposta oficial de que as exportações devem alcançar US$ 180 bilhões neste ano, frente aos US$ 160,6 bilhões obtidos em 2007, o que poderia garantir um saldo da balança rondando os US$ 30 bilhões. Essa expectativa exportadora do governo sustenta-se no fato de que alguns itens pouco exportados nos três primeiros meses, como minério de ferro, petróleo e soja, devem ganhar forte aceleração nos próximos meses. Os reajustes no preço do minério atrasaram as compras, enquanto no caso do petróleo a paralisação na refinaria de Paulínia, além do aumento do consumo interno, prejudicou as exportações. Já os embarques de soja, no primeiro trimestre, foram 28% menores do que em 2007, embora os preços, com alta de 51%, tenham compensado essas perdas de volume.Há também no governo uma certa tranqüilidade com a expansão das importações, construída pelo fato de que a compra de bens de capital subiu 70,5% em março, comparado ao mesmo mês de 2007. Nem mesmo a alta de 32,4% nas importações de bens de consumo preocupou excessivamente os técnicos do ministério. As importações, de fato, têm forte poder de conter as pressões inflacionárias. A função do governo, sem dúvida, é ajudar a aumentar as exportações, sem mágicas. O secretário de Comércio Exterior, quando apresentou os números da balança comercial, admitiu a falta de competitividade das exportações brasileiras por problemas logísticos, alta carga tributária, sem esconder o peso da forte valorização do real. Esse é o ponto. Em 2006, o saldo da balança comercial alcançou US$ 46 bilhões e desde então, pela "competitividade sistêmica", para repetir a expressão dos técnicos do governo, esse saldo enfrenta perdas sucessivas. É verdade que o governo adotou algumas medidas pontuais para conter a dramática desvalorização do dólar, como a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras das exportações, além de decretar o fim da cobertura cambial, oferecendo algum alívio ao exportador nacional. O fato é que o Brasil perdeu posição na maioria dos grandes mercados mundiais, com exceção da Argentina. Para esse último destino, no primeiro trimestre, as vendas cresceram 40,6% em relação ao mesmo período de 2007. A preocupação do governo com as exportações precisa se traduzir em ações reais, em especial no que diz respeito, por exemplo, ao apoio à infra-estrutura exportadora. Merece atenção a conta de especialista de que o aumento dos investimentos das estatais pode assegurar uma exposição orçamentária de R$ 62 bilhões para obras de infra-estrurua. Isto, obviamente, se o governo não contingenciar exatamente essas verbas em nome da disciplina fiscal para conter as pressões inflacionárias. A qualidade do gosto público no Executivo federal precisa ser observada com mais cuidado. Há duas semanas o governo concedeu reajustes salariais a quase um milhão de funcionários públicos e nos próximos dias deverá contingenciar verbas destinadas a investimentos. Preocupar-se com as exportações implica, por exemplo, resolver problemas logísticos. Como até técnicos do próprio governo já reconheceram. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)