Título: Rio busca reforço de pediatras contra a dengue
Autor: Figueiredo, Talita, Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2008, Vida, p. A16

Na capital, n.º de mortes sobe para 44; casos no País diminuíram 27%, mas em 14 Estados houve aumento

Talita Figueiredo, Lígia Formenti e Alexandre Rodrigues

A Secretaria Estadual da Saúde do Rio solicitou ontem a todos os Estados que enviem pediatras para atender crianças vítimas da dengue em três novos centros de tratamento que esperam apenas a contratação de 154 médicos para serem inaugurados. A secretaria também pediu ajuda à Sociedade de Pediatria do Estado do Rio (Soperj) para revisar os óbitos de crianças com o objetivo de identificar possíveis erros.

Ontem, o número de mortes no município do Rio subiu de 31 para 44. Desses, 23 são de crianças até 12 anos. Em todo o Estado, foram pelo menos 67 mortes. ¿Fazer a revisão dos óbitos é muito importante não apenas para que os mesmos erros não sejam cometidos, mas para que o Brasil comece a montar a sua literatura da experiência do combate à doença. A dengue, neste momento, assumiu uma gravidade na infância jamais vista e nós temos pouca expertise no tema¿, disse a presidente da entidade, Fátima Coutinho.

Em boletim divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, porém com dados até fevereiro, o Rio aparece com 36% de todos os casos de dengue registrados no Brasil até aquele mês, sendo que a capital concentra o maior número. Pelo boletim, neste ano, 120.570 pessoas contraíram a doença no Brasil, com 74 mortes até fevereiro - 48 pela forma hemorrágica e o restante por complicações provocadas pela infecção. Os números mostram que em 14 Estados a epidemia cresceu quando comparada aos primeiros dois meses de 2007. O maior aumento foi no Amazonas: um número de casos 992% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Quando se analisam os números totais do País, no entanto, os casos de dengue caem 27%, puxados pelas regiões Centro-Oeste (queda de 79%) e Sul (56,88% inferior).

TREINAMENTO

A Soperj vai treinar os pediatras que aceitarem o convite para trabalhar nos centros de hidratação que a secretaria do Rio pretende inaugurar. O primeiro curso pode ser feito ainda esta semana. O pedido para envio de pediatras foi feito pelo secretário Estadual da Saúde, Sérgio Côrtes, ao presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Osmar Terra. Os pediatras vão trabalhar em plantões de 12 horas, pelos quais vão receber R$ 500. A secretaria estima gastar R$ 616 mil mensais com pagamento.

No entanto, o órgão arcará também com as despesas de viagem e hospedagem, cujos custos ainda não foram calculados. O secretário estima que precise do reforço até o fim de maio. ¿Já temos enfermeiros, técnicos em enfermagem, poltronas de hidratação, mas faltam pediatras. Os pediatras do Estado que estavam cedidos para outros órgãos já foram convocados, por decreto, na semana passada e já estão sendo recolocados na rede pública. O problema é que não tem gente suficiente¿, afirmou Côrtes.

Em visita ao Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou as três esferas de governo pela epidemia de dengue no Estado. O presidente, no entanto, dividiu a culpa pelo descontrole do mosquito transmissor da doença ¿com cada indivíduo deste País¿. ¿Temos que cuidar da dengue antes de sermos picados pelo mosquito. Depois que ele pica, a situação fica complicada¿, discursou Lula durante lançamento das obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.