Título: Despesa com juros atinge R$ 15,4 bi
Autor: Graner, Fabio ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2008, Economia, p. B4

Resultado, recorde para meses de fevereiro, foi influenciado pelas perdas do BC em operações com dólar

Fabio Graner e Fernando Nakagawa

As despesas com juros sobre a dívida pública deram um pulo em fevereiro, alcançando R$ 15,444 bilhões, valor 40,2% maior que em igual mês do ano passado. O valor é recorde para o mês. A alta foi influenciada principalmente pelas perdas do Banco Central (BC) em suas operações com dólar.

Ao mesmo tempo, a indicação para o comportamento dos juros piorou para o restante do ano. Depois dos alertas dados pelo Relatório de Inflação, o BC elevou a previsão de gastos com juros no ano, de 5% do PIB para 5,4%. O movimento é respaldado pelo resultado da pesquisa Focus, na qual o mercado financeiro também revê o juro para cima.

A despesa recorde de juros em fevereiro foi parcialmente compensada com um superávit primário elevado, de R$ 8,97 bilhões, o maior para meses de fevereiro. O resultado primário é dado pela diferença entre receitas e despesas, sem considerar os juros, e serve para evitar um crescimento desordenado da dívida pública. No primeiro bimestre, o superávit primário foi de R$ 27,629 bilhões, o equivalente a 6,22% do PIB, também recorde para o período.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que o superávit primário elevado reflete principalmente as receitas em alta, mas está relacionado com o ritmo mais fraco de crescimento das despesas, por causa da demora para aprovação no Orçamento, que só ocorreu em março.

Na conta de juros, Altamir explica que em fevereiro o BC teve prejuízo de R$ 2,6 bilhões com operações em dólar, chamadas de swap cambial reverso. Nelas, o BC faz contratos em que fica devedor em juros e credor em dólar, o que o faz ter prejuízos quando o real se valoriza. Em fevereiro, o dólar caiu 4,38% ante o real.

O especialista em finanças públicas da Unicamp, Francisco Lopreato, avalia que o resultado primário das contas públicas reflete o nível de atividade econômica. ¿O destaque é como o crescimento faz bem para as contas públicas, apesar de o câmbio afetar os juros. O crescimento substituiu a queda da CPMF. É por isso que ele não pode ser abortado por meio de uma alta nos juros.¿

Para ele, há rigidez no gasto com juros por causa do processo de ampliação da parcela de títulos prefixados - que têm juros definidos no momento da venda do papel - e do alongamento da dívida pública. E acredita que está na hora de se interromper a política de acumulação de reservas e de realização de swaps cambiais. ¿O Tesouro está vendendo papéis prefixados com prazo mais longo e, por isso, o gasto com juro está travado. Agora que o juro parou de cair, travou de vez. A tendência de redução é muito lenta.¿

¿Fora isso, tem o problema do câmbio. Se o real se valoriza, o BC toma prejuízo. Já está na hora de começar a fazer uma coisa no sentido de não aumentar a exposição ao dólar¿, acrescentou Lopreato.

Com a expectativa de maior carga de juros, o BC elevou de 1,2% para 1,6% do PIB a projeção para o déficit nominal das contas públicas - receitas menores que despesas, incluindo os juros. Apesar disso, a autoridade monetária continua prevendo queda na dívida em relação ao PIB, que em fevereiro subiu para 42,2%. Altamir espera que a dívida feche o ano em 41,3% do PIB, por causa do maior crescimento econômico esperado, de 4,8%. A projeção anterior para a dívida era de 41,5%.

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