Título: Cristina lança pacote de benefícios, mas não consegue encerrar locaute
Autor: Palacios, Ariel ; Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2008, Economia, p. B8

Alvo das medidas são os pequenos e médios produtores agrícolas, que são a maioria; movimento já dura 19 dias

Ariel Palacios e Marina Guimarães

O conflito entre o governo da presidente Cristina Kirchner e os produtores agropecuários - que há 19 dias fazem um locaute com piquetes nas estradas - estava prestes a entrar em nova escalada ontem à noite. No fim da tarde, o governo anunciou um pacote de medidas de benefícios para pequenos e médios agricultores, como forma de apaziguar os produtores, que exigem a suspensão dos aumentos dos impostos sobre as exportações agrícolas.

Em troca desse pacote - denominado ironicamente pela imprensa de ¿a última oferta¿ -, a presidente esperava que os produtores suspendessem a paralisação e os bloqueios nas estradas. Caso contrário, o governo enviaria a gendarmeria (força de segurança especializada em dissolver manifestações).

Após o anúncio do pacote, as lideranças das quatro associações agropecuárias se mostraram decepcionadas. ¿Tudo indica que não há mudanças na posição do governo¿, disseram. Algumas horas depois, informaram que o locaute e os piquetes serão mantidos até amanhã, enquanto tentam reabrir o diálogo com o governo.

PACOTE

Segundo o ministro da Economia, Martín Lousteau, o pacote inclui a devolução tributária automática aos pequenos produtores (aqueles que produzem menos de 500 toneladas de soja e girassol). Além disso, estabelece subsídios para fretes dos produtores que estejam a mais de 400 quilômetros de áreas portuárias, facilidades para o registro de exportações do trigo, e a criação da Subsecretaria de Desenvolvimento Agrícola (para melhorar a situação social dos trabalhadores rurais), além de subsídios à produção de laticínios de consumo popular. O governo também normalizará as exportações de trigo, que estavam sob restrições.

Depois de Losteau, a presidente Cristina fez um discurso, no qual criticou os produtores de soja pelo desmatamento do país e os acusou de não estarem abertos ao diálogo. A presidente tentou cooptar os pequenos empresários, argumentando que, de 84 mil produtores de soja, cerca de 62 mil serão beneficiados pelo governo.

PRISÃO E CONFISCO

Informações extra-oficiais indicam que se, nas próximas 48 horas, ou seja, até o fim da noite de amanhã, a paralisação e os piquetes não acabarem, o governo aplicará a Lei do Abastecimento, com a qual pode ordenar a prisão (de três meses a quatro anos) de empresários e confiscar produtos alimentícios que integrem a cesta básica. O governo, com essa lei, pode multar os empresários que se recusarem a abastecer a população com os volumes costumeiros dos produtos e seus respectivos preços do mercado.

Ambos os lados deram demonstrações de força. No domingo à noite, os produtores levaram 10 mil pessoas até a entrada do túnel subfluvial, sob o Rio Paraná, que une as províncias de Entre Ríos e de Santa Fé, duas das mais importantes produtoras agrícolas do país. Entre 300 e 500 piquetes foram realizados ontem pelos produtores, segundo as associações agropecuárias.

Ontem de manhã, o ministro de Segurança e Justiça, Aníbal Fernández, declarou que o governo vai garantir o trânsito para os caminhões do Mercosul. Segundo ele, se os produtores agropecuários não permitirem a passagem dos caminhões, ¿realizaremos todas as detenções (de pessoas) necessárias¿.

A gendarmeria retirou manifestantes da estrada nacional número 14, mais conhecida como ¿Via do Mercosul¿, por onde passa a maior parte do transporte de cargas entre o Brasil e a Argentina. Após a intervenção, dezenas de caminhões vindos do Brasil puderam passar. A tensão era elevada em vários piquetes,já que os agricultores ameaçavam resistir.

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