Título: Para evitar nova CPI, governo pode ceder
Autor: Recondo, Felipe ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2008, Nacional, p. A4
Base deve permitir aprovação de requerimentos na comissão mista
Eugênia Lopes e Vera Rosa
Disposto a evitar a todo custo a abertura de uma CPI restrita ao Senado para vasculhar despesas com cartão corporativo, o governo vai negociar com a oposição. Articulador político do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, conversará hoje com os senadores Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, e José Agripino (RN), que comanda a bancada do DEM, na tentativa de procurar o entendimento.
O assunto foi tratado ontem à noite na reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com ministros que compõem a coordenação política do governo. Na prática, o Planalto emitirá sinais de que pode ser mais flexível com os adversários na CPI Mista dos Cartões, formada por deputados e senadores. A idéia é permitir a aprovação de alguns requerimentos de transferência do sigilo dos gastos da Presidência e, em último caso, até a convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desde que acertados os procedimentos para a sabatina. Com essa tática, o governo espera conseguir abortar a criação de uma CPI exclusiva do Senado.
O presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), prometeu ler hoje no plenário o requerimento de abertura da outra CPI. ¿Acho que devemos utilizar os mecanismos necessários para evitar uma CPI desnecessária e supérflua¿, afirmou ontem o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), após se reunir com Múcio e com o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da comissão mista. ¿Não tem sentido instalar uma outra CPI no Senado.¿
A base aliada, especialmente o PT, está dividida em relação à ida de Dilma ao Congresso. ¿A ministra não deve ir. Ela já explicou o que tinha de explicar¿, disse Rands, ao admitir o racha sobre o assunto não só no PT como também no Planalto. Na semana passada, o governo cochilou e a oposição conseguiu aprovar na Comissão de Infra-Estrutura do Senado a convocação da ministra-chefe da Casa Civil.
Para impedir a CPI só do Senado, os governistas chegaram a cogitar pedir aos aliados que retirassem suas assinaturas do requerimento de criação da comissão de inquérito. Mas desistiram: das 33 assinaturas, 9 são de senadores da base aliada.
Em uma CPI integrada apenas por senadores, a correlação de forças entre governo e oposição é mais equilibrada. Os aliados dispõem de maioria apertada: apenas 1 voto num universo de 11 integrantes. Na CPI mista, porém, a oposição é minoria: são 14 votos dos governistas contra 7 dos adversários. Não sem motivo a oposição foi derrotada em todos os pedidos de quebra de sigilo das contas da Presidência e de convocação de autoridades, como Dilma e seu braço direito, Erenice Alves Guerra.
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