Título: Direção da TV Brasil nega interferência do governo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2008, Nacional, p. A9

Demitido na sexta-feira, editor-chefe diz que não tinha autonomia

A direção da Empresa Brasil de Comunicação, que controla a TV Brasil, reagiu ontem às declarações do jornalista Luiz Lobo de que não há total independência no jornalismo da emissora pública. Demitido na sexta-feira do cargo de editor-chefe do telejornal Repórter Brasil, Lobo disse que não tinha autonomia sobre os textos que iam ao ar e havia interferência do governo na edição. Queixou-se ainda de que todo o material do jornal tinha de ser submetido à coordenadora de telejornais, Jaqueline Paiva.

As críticas de Lobo foram feitas em entrevista publicada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo. Entre os episódios por ele apontados está a cobertura do dossiê sobre gastos do governo Fernando Henrique Cardoso a partir de dados sigilosos da Casa Civil.

Segundo Lobo, as reportagens só podiam falar em ¿suposto dossiê¿. Também alegou ter sido repreendido por uma reportagem sobre problemas na saúde que não citava o corte no Orçamento por conta do fim da CPMF, derrubada pelo Senado.

A presidente da EBC, Tereza Cruvinel, reagiu às queixas de Lobo e justificou sua demissão como ¿uma questão empresarial¿. Segundo ela, o jornalista não tinha dedicação exclusiva à emissora. ¿Era um bom apresentador, mas revelou inadequação para editor-chefe. É preciso se dedicar com mais intensidade, precisa de uma jornada maior.¿

Lobo classificou a explicação de ¿uma falácia diante da falta de argumentos¿. ¿Tive embate freqüente, diário. Carrego a decepção de vários, não só minha. Sou um defensor da TV pública, mas entendo que o jornalismo é o coração de uma emissora. Imagine seu nome subir toda noite como editor-chefe e você ter consciência de que, em alguns casos, você não pôde nem passar o texto¿, afirmou o jornalista, ontem, ao Estado.

¿O que ele chama de interferência é a responsabilidade da jornalista Jaqueline Paiva como editora de telejornais¿, afirmou Teresa. Ela observou que o termo ¿suposto¿ deve ser usado ¿sempre que não há prova cabal da existência¿ de determinado fato. Sobre as reportagens de saúde pública, disse que ¿é bom jornalismo associar efeitos e causas¿.

Lobo disse que, há duas semanas, foi avisado pela diretora de jornalismo da emissora, Helena Chagas, de ¿que nada mais entraria no jornal sem passar pela Jaqueline¿. Ele lembrou que Jaqueline é casada com um dos assessores da Secretaria de Comunicação da Presidência, Nelson Breve. ¿Como colocar uma profissional tão próxima do palácio? É absoluta falta de bom senso