Título: Cubanos vão à praia após liberalização
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2008, Internacional, p. A15

Locais já dividem a areia com turistas

Reuters

O fim de semana passado foi o primeiro em 15 anos no qual os cubanos puderam aproveitar o sol, a praia e o mar transparente do balneário de Varadero, a 140 quilômetros de Havana - e muitos não perderam tempo. ¿Antes, simplesmente não tínhamos acesso a tudo isso¿, disse, ao sair da água, a cubana residente no país Jessica, de 15 anos - hospedada num hotel de Varadero juntamente com o pai, Lázaro López, que vive há oito anos em Miami, EUA.

Desde 1993, os cubanos eram proibidos de freqüentar hotéis para turistas e alugar carros. Na época, a medida foi adotada como uma forma de impedir o aumento da ¿desigualdade social¿. Seu resultado, porém, foi a criação de uma espécie de apartheid. Os turistas tinham acesso a restaurantes e hotéis de luxo, comiam lagosta e viajavam pelo país de carro. Os cubanos não podiam nem sequer pôr os pés nas imensas porções da praia de Varadero reservadas para os hóspedes dos empreendimentos hoteleiros da orla. ¿Antes não me deixavam entrar. Se você era cubano, era como se fosse um bicho raro¿, disse Lázaro López.

Na semana passada, a impopular proibição foi derrubada pelo presidente Raúl Castro - que assumiu em fevereiro prometendo acabar com as ¿restrições excessivas¿ aos habitantes da ilha.

¿(A liberalização do turismo nacional) é uma medida que põe fim às inquietudes que sempre prejudicaram a imagem de Cuba no exterior¿, disse Pedro - que a convite do genro, que vive nos EUA, se hospedou por dois dias no Meliá Las Américas, em Varadero, onde a diária é de US$ 210. ¿Agora nós, cubanos, talvez nos dediquemos mais a trabalhar e poupar, como fazíamos antes. Não que consigamos vir todos os fins de semana, mas ao menos já há essa possibilidade¿, completou.

De fato, a regalia é para poucos. O salário médio na ilha é de apenas US$ 19 e a grande maioria da população mal consegue suprir suas necessidades básicas. Os cubanos conseguem o dinheiro que estão usando para sair de férias fazendo bicos, trabalhando numa estreita gama de categorias em que são permitidos negócios privados, operando no mercado negro ou por meio de parentes no exterior.

Por enquanto, também não há ofertas especiais para os hóspedes cubanos. ¿Eles estão sendo tratados como qualquer turista e estão gostando¿, disse Armando, garçom do Hotel Rivera, em Havana. No Hotel Nacional, porém, também na capital, os únicos cubanos que se alojaram nos últimos dias, segundo o relato de um funcionário, foram prostitutas acompanhadas de turistas estrangeiros. Não é de estranhar, uma vez que a diária custa US$ 162.

Além de acabar com a proibição para que os cubanos freqüentem hotéis, Raúl fez outras mudanças que afetaram a vida dos cubanos nas últimas semanas. Há uma semana, por exemplo, começaram a ser vendidos nas lojas da ilha aparelhos eletrônicos, como DVDs, e itens como panelas elétricas e scooters. Os computadores também tiveram sua venda liberada e, embora as prateleiras das lojas de informática ainda estejam vazias, há promessas de que os produtos, importados, cheguem em breve.

Ainda ontem, o governo anunciou que outorgará créditos a cooperativas privadas para estimular a produção de alimentos.

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