Título: Brasileiro vai à China em busca de tratamento
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2008, Vida&, p. A31

Hospital em Pequim cobra até US$ 20 mil por terapia experimental com células-tronco

Paraplégico desde janeiro de 2006 por causa de um acidente de carro, o representante comercial Renato Tadeu Neves Cafundó, de 42 anos, fez de tudo para se tornar menos dependente: aprendeu a se virar na cama, segurar o garfo, manejar a cadeira de rodas e dirigir um carro adaptado. Considerou pouco.

No mês passado, viajou para a China e tornou-se o primeiro brasileiro a submeter-se, naquele país, a um tratamento experimental para restauração da medula com células-tronco embrionárias. Foi operado no Hospital Xishan, a 20 minutos do centro de Pequim, pela equipe do médico Huang Hongyun. Além do implante, recebeu várias aplicações de células neurais e drogas para o controle da rejeição.

Cafundó pagou metade do preço cobrado pelo hospital, de US$ 20 mil (cerca de R$ 35 mil), porque concordou em receber medicamentos em fase experimental para o bloqueio da rejeição das células implantadas. Ele quer voltar a andar, algo impensável para um portador de lesão na medula de nível drástico, como é seu caso.

¿Os médicos chineses não deram garantias, mas eu tinha que tentar¿, disse. Ele deveria ter alta no próximo dia 8, mas antecipou a volta ao Brasil com a anuência dos médicos por causa de sua rápida recuperação pós-cirúrgica. Desde a semana passada, ele se submete a sessões de fisioterapia em Sorocaba (92 km de São Paulo), onde mora. ¿Pode ser coisa da minha cabeça, mas estou sentindo calor nas pernas¿, diz, esperançoso. Ele mostra que consegue movimentar os dedos das mãos, antes travados. ¿Talvez seja efeito da fisioterapia¿, minimiza. São 60 minutos diários de sessão intensiva, dirigida pela fisioterapeuta Flávia Menezes. Cafundó continua cauteloso: ¿Eles (médicos chineses) foram claros dizendo que as chances de recuperação dos movimentos seriam mínimas e demoradas, podendo levar mais de um ano.¿

Mas o hospital em Pequim faz propaganda de casos bem-sucedidos. Já passaram por lá cerca de 800 pacientes de 70 países. Casos de pessoas paralíticas pelos mais variados motivos e que voltaram a andar estão expostos com fotos em murais. As células usadas nos tratamentos são colhidas de fetos resultantes de abortos, que a lei chinesa de controle de natalidade permite em qualquer fase da gravidez.

Cafundó tomou conhecimento da equipe pela televisão. ¿Só quem está na mesma situação sabe o que significa para um cadeirante qualquer sinal de esperança, por menor que seja.¿

DÚVIDAS

A geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores especialistas em células-tronco no Brasil, questiona. ¿Pessoalmente não acredito em resultado. Acho que eles fazem algo aleatório, sem o controle necessário¿, diz ela, lembrando que os resultados ainda não foram apurados.

Para a pesquisadora, o caso serve de alerta para a necessidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) definir como ficarão as pesquisas com células-tronco embrionárias no País. ¿Caso contrário, haverá corrida ao exterior.¿

O neurocirurgião Samuel Simis, que acompanha o caso de Cafundó, diz que a lesão da coluna cervical do paciente está consolidada. ¿É um caso grave, considerado irreversível. Vamos ver se os próximos exames neurológicos apresentam modificação.¿ Os exames não foram marcados.

Links Patrocinados