Título: Países pobres concentram refúgios
Autor: Carelli, Gabriela
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2008, Metropole, p. C9

As áreas litorâneas são as que mais recebem aposentados

Levantamento do Migration Policy, um instituto americano que estuda o fluxo de populações, localizou 203 regiões que se transformaram em espécies de refúgios de aposentados estrangeiros. A maioria delas se situa em áreas litorâneas de países subdesenvolvidos - lugares onde investidores encontram terras baratas para a construção de empreendimentos cheios de luxo e conforto, que lembram os resorts à beira-mar.

De todas as regiões do mundo, o Sudeste Asiático é a que mais recebe idosos. Na Tailândia, são expedidos por ano cerca de 3,5 mil vistos de residentes para aposentados. Na Malásia, 5 mil. Cerca de 50 mil idosos japoneses moram em condomínios em Bangcoc e arredores, segundo uma pesquisa da Universidade de Cingapura. As Filipinas são outro pólo da terceira idade. ¿O governo estima em 1 milhão o montante de idosos estrangeiros no país em sete anos¿, diz Ernesto Ordonez, da Phillipine Retirement, entidade que auxilia os aposentados.

Até pouco tempo atrás, a imigração de idosos acontecia de forma pontual . ¿Era algo restrito a casos isolados de pessoas mais velhas que optavam por morar em um país qualquer, compravam um imóvel e se integravam à sociedade local¿, diz o pesquisador Russell King, autor de um trabalho sobre a emigração de idosos ingleses. ¿Hoje, essa migração é um movimento vultoso, com características próprias¿, afirma King.

CLASSE MÉDIA

Estudiosos do fenômeno identificaram padrões entre os idosos emigrantes de vários países. Eles pertencem à classe média e compram as novas casas com dinheiro de fundos de pensão, resultado de uma vida de trabalho. Optam por morar em condomínios, de preferência com vizinhos da mesma nacionalidade e faixa etária.

Uma pesquisa do Migration Policy com americanos que emigraram para o México e o Panamá encontrou outra singularidade. A busca pelo ¿paraíso¿ começa na internet. ¿Eles já têm em mente alguns países e definem, via web, qual é o mais adequado¿, diz o pesquisador David Nixon.

Pesam nessa decisão, além do preço do imóvel e da localização, a facilidade em obter visto e a renda mínima exigida. Para morar no Brasil, o aposentado precisa receber US$ 2 mil por mês. Nas Filipinas, US$ 800. Um dos entrevistados para esse estudo deixa claro a importância da questão econômica. ¿Eu posso ir para o Panamá e me aposentar; ou ficar na Flórida e trabalhar.¿

Os primeiros emigrantes da terceira idade foram os ingleses e os holandeses. ¿Eles repovoaram as regiões mediterrâneas de Itália, Espanha e Grécia na última década. Hoje, migram para a África do Sul e a América Latina¿, diz o pesquisador da Universidade de Tóquio Yoshitaka Ishikawa.

O movimento migratório europeu foi seguido pelo asiático - de japoneses, coreanos e chineses. Eles estão no Sudeste da Ásia e em países da América Central, como Nicarágua e Panamá, também reduto de americanos.

ECONOMIA

Como todo o deslocamento de populações, a emigração de aposentados tem um enorme impacto social e econômico. Nas Filipinas, os aposentados devem movimentar US$ 56 bilhões em 2015, segundo estimativas do governo. Na Costa Rica, aposentados e turistas, donos de 83% das residências na área costeira, movimentam cerca de US$ 4 bilhões por ano.

A importância desses aposentados é tanta que muitos governos desenvolvem projetos específicos para atendê-los. Em Tagaytay City, nas Filipinas, as autoridades locais, em parceria com o governo japonês, investem milhões de dólares na construção de um centro de saúde para a população de idosos que deixou o Japão para viver ali. Na Malásia, estrangeiros de mais idade têm isenção de impostos na compra de imóveis.

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