Título: BC não abre mão de ação preventiva
Autor: Lu Aiko Otta; Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2008, Economia, p. B1

Toda a batalha que vem sendo travada nos bastidores do governo em torno das taxas de juros tem um ponto central: o Ministério da Fazenda acusa o Banco Central (BC) de querer ¿agir preventivamente¿ contra uma alta de inflação que ainda não está claramente delineada, simplesmente pelo receio de que a economia esteja crescendo acima de suas reais condições. Já o BC considera sua obrigação atuar com antecedência contra ameaças inflacionárias, pois alega que, se não fizer isso agora, a sociedade poderá pagar uma conta muito mais alta no futuro.

Na avaliação do BC, a atual estrutura produtiva do País não sustenta um crescimento no ritmo dos primeiros meses deste ano, na casa dos 6%. Por isso, considera que está na hora de colocar o pé no freio e reduzir, mesmo que de forma suave, o crescimento da demanda.

A Fazenda acha que a avaliação do BC está errada, pois argumenta que a demanda, embora robusta, ainda não afetou o comportamento da inflação. Inconformado com a posição do BC e com a ameaça de ¿ação preventiva¿, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a proclamar, na semana passada: ¿Os ortodoxos têm medo do crescimento¿.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, tem outro entendimento. Em conversas com integrantes do governo, Meirelles costuma ilustrar a importância da ¿ação preventiva¿ com o ocorrido nos Estados Unidos no século passado. Candidato à reeleição em 1972, Richard Nixon pressionou seu presidente do Federal Reserve (Fed), Arthur Burns, a baixar juros e estimular o consumo.

Dois anos depois, Nixon caiu e deixou como herança uma inflação crescente. O processo inflacionário persistiu até que, em 1981, já no governo de Jimmy Carter, o então presidente do Fed, Paul Volcker, elevou as taxas de juros a até 20% e fez um brutal ajuste monetário. Os preços se estabilizaram, mas Carter não foi reeleito. É para evitar que histórias assim se repitam que o BC brasileiro prefere agir preventivamente.

A argumentação de Mantega se baseia em dois pontos principais. Ele alega que as pressões inflacionárias não são localizadas e se devem a alguns itens dos alimentos. Se os preços do feijão e do leite e seus derivados fossem excluídos do cálculo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos 12 meses até fevereiro cairia de 4,6% para 3,9% - bem abaixo da meta de 4,5%.

O segundo ponto destacado pela Fazenda é que todas as estimativas para 2009 apontam para um índice inferior à meta de 4,5%. Ao divulgar o relatório de inflação do primeiro trimestre, o próprio BC estimou a inflação do próximo ano em 4,4%. O mercado prevê 4,31%, segundo o último boletim Focus. Se as previsões do mercado e do BC indicam queda da inflação, a Fazenda não vê razão para elevar os juros.

Links Patrocinados