Título: Dólar em queda derruba venda de vinho brasileiro
Autor: Vialli, Andrea
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2008, Economia, p. B5

Consumo da bebida cresce 15% ao ano, mas vendas do produto nacional caem abaixo da metade em 11 anos

O dólar desvalorizado e a elevada carga tributária estão derrubando as vendas de vinhos brasileiros. Embora o consumo de vinhos no País apresente um crescimento de 15% ao ano, as vendas do produto brasileiro despencaram de 43 milhões de litros em 1996 para 20,9 milhões de litros no ano passado.

O grande pesadelo da indústria vinícola nacional é a entrada de produtos chilenos e argentinos. E isso ocorre principalmente na faixa de preço em torno de R$ 10, exatamente onde a tendência de aumento das vendas está ocorrendo, reflexo do aumento do poder de compra das famílias, especialmente na classe C.

Só nos últimos cinco anos, as vendas de vinhos finos no Brasil saltaram de 49,5 milhões de litros, em 2002, para 78,5 milhões, no ano passado. Os dados, da União Brasileira da Vitivinicultura (Uvibra), mostram ainda que no mesmo ritmo caíram as vendas de vinhos brasileiros, cuja participação de mercado recuou de 51,2%, em 2002, para 26,6%, em 2007.

¿As vinícolas brasileiras investiram pesado para melhorar a qualidade do produto nacional, mas o brasileiro está tomando vinho ruim da Argentina e do Chile¿, resume Angelo Salton, presidente da vinícola Salton. ¿Esses vinhos estão entrando como água no País, e atraem o consumidor por causa do rótulo importado.¿

Segundo o executivo, em 2001 foram importados 7,7 milhões de litros de vinho da Argentina e do Chile. No ano passado, foram 34,5 milhões de litros. ¿É aí que está o aumento do consumo¿, explica. Nos supermercados, é possível encontrar vinhos de origem argentina a partir de R$ 4,99.

IMPOSTOS

Além da falta de cultura de beber o vinho brasileiro, a pesada carga tributária que incide sobre o produto nacional contribui para sua perda de espaço. Os impostos compõem em torno de 42% a 50% do valor de uma garrafa de vinho nacional - IPI, PIS/Cofins, ICMS e contribuição sobre lucro das empresas. Alguns deles incidem em cascata, sendo pagos pela indústria e varejo. ¿Em contrapartida, a tributação sobre o vinho importado é uma caixa-preta. Ninguém sabe ao certo.¿

¿Com o dólar mais alto, sentíamos menos a carga tributária brasileira. Porém, na atual conjuntura, há uma total disparidade competitiva que necessita ser restabelecida¿, diz Márcio Bonilha, diretor nacional de vendas da Miolo Wine Group. A empresa, que faturou R$ 70 milhões no ano passado, tem investido fortemente para aumentar as exportações e compensar a queda no consumo interno. Também tem feito parcerias com varejistas, como o Grupo Pão de Açúcar, para elevar as vendas entre os consumidores de melhor poder aquisitivo.

Uma das reivindicações das vinícolas ao governo é a isenção de impostos como o IPI para o vinho produzido com uvas frescas e a fixação de um imposto de importação com valor de US$ 3 por garrafa. ¿Isso garantiria preços justos para o produto importado de boa procedência, ao mesmo tempo que criaria condições competitivas para o vinho nacional¿, diz Bonilha, da Miolo. Os produtores de vinho brasileiros estão se mobilizando para aprovar a Medida Provisória (MP) nº 413, que trata da tributação do vinho importado.

A queda no consumo interno do vinho também preocupa outros segmentos da indústria. A Owens Illinois, multinacional do setor de embalagens de vidro, acompanha com atenção a situação das vinícolas. ¿A indústria de embalagens desenvolveu produtos de alta tecnologia para esse segmento, e o que acontece hoje é que não conseguimos novos clientes da área de vinhos. Todas as vinícolas estão sofrendo com essa invasão dos importados baratos¿, diz Leandro Pignataro, diretor de Marketing da Owens Illinois.

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