Título: De Minas, 1º azeite extra virgem brasileiro
Autor: Lacerda, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2008, Economia, p. B22

A pequena Maria da Fé produziu no ano passado 200 litros do produto

A cidade de Maria da Fé, no Sul de Minas Gerais, é conhecida desde a década de 40 como a ¿cidade dos olivais¿. As árvores de azeitonas estão presentes nas principais ruas e praças do município de 15 mil habitantes. No entanto, apenas este ano Maria da Fé iniciou a exploração das azeitonas - e se tornou a primeira produtora de azeite extra virgem do País.

Apesar de o Brasil consumir anualmente 23 mil toneladas de azeite de oliva e 49 mil toneladas de azeitonas, todo esse volume vem de fora. O País não produz azeitonas em conserva nem azeite, um mercado que movimenta internamente cerca de R$ 250 milhões ao ano. O consumo é suprido pelos produtos vindos principalmente da Espanha, de Portugal e da Itália.

Após uma primeira produção artesanal, pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) decidiram instalar este ano uma fábrica para a produção de azeite na região. ¿Vimos que nosso azeite tem a mesma qualidade dos importados. Para este ano, vamos ampliar o plantio e a produção¿, diz o pesquisador da Epamig João Vieira Neto. O investimento inicial será de R$ 85 mil. ¿As máquinas não são caras, e manteremos boa parte do processo artesanal para ter maior qualidade.¿

O azeite da Epamig é o extra virgem, aquele com acidez inferior a 0,8% e cuja prensa das azeitonas é feita apenas algumas horas após a colheita - manual, para não danificar os frutos. Este ano, foi colhida uma tonelada de azeitonas e produzidos 200 litros de azeite. ¿Foi uma fase experimental e artesanal. Em 2009, pretendemos prensar 600 quilos ao mês.¿

Para a produção do azeite, as frutas colhidas são lavadas, trituradas (com caroço) e depois prensadas com um peso superior a 25 toneladas. Da pasta, escorre o azeite, e bastam algumas gotas para sentir o aroma característico do produto.

Curiosamente, a azeitona recém-colhida tem um gosto que beira o pavoroso. O sabor amargo deve-se a uma substância chamada oleopropeína, que só é diluída após o processo de conserva. ¿Nem passarinho e macaco têm coragem de comer azeitona no pé¿, brinca o técnico agrícola Renato Stumpf. ¿Dessas pragas, a plantação não sofre.¿

Uma oliveira leva cerca de 5 anos para dar frutos de qualidade. ¿Com o sucesso das pesquisas da Epamig, surgiram mais produtores interessados na plantação comercial de oliveiras na região¿, diz a secretária de Cultura de Maria da Fé, Maria Rita Marchetti. ¿Iniciamos um projeto cultural com todos os professores do município para estimular entre as crianças o estudo das oliveiras, desde seu uso na Idade Antiga, na Grécia e na região da Síria, até a economia que seus produtos movimentam nos dias de hoje.¿

Os maiores produtores mundiais de azeite de oliva são a Espanha (720 mil toneladas/ano), a Itália (500 mil) e a Grécia (350 mil). ¿Estamos muito longe disso, mas a oliveira pode criar empregos e tornar-se uma nova oportunidade de emprego na região¿, diz a secretária. A economia de Maria da Fé gira especialmente em torno da agricultura - onde boa parte da produção é orgânica - e do artesanato feito com folha de bananeira.

MERCADO INTERNO

O empresário Hugo Gonçalves é um dos primeiros a investir na oliveira como negócio na região. ¿Já estamos produzindo mudas para a venda, e começamos a montar uma cooperativa de pequenos produtores para atender o mercado local¿, diz o fundador da Oliva Brasil. Segundo a prefeitura, já há espanhóis adquirindo fazendas na região.

Como Maria da Fé está situada na serra - e é conhecida por ser a cidade mais fria de Minas Gerais -, seu terreno é montanhoso, não propício para grandes fazendas. ¿Mas há vários terrenos para pequenas plantações, e podemos trabalhar em cooperativa, como regiões da Itália e da Espanha.¿ Ele diz que, além de Maria da Fé, há estudos em fase de pesquisa no Rio Grande do Sul e no Nordeste.

Inicialmente, a produção de Maria da Fé visa a atender o mercado interno, especialmente as casas especializadas em azeites. O especialista em azeites Marcus Pimentel, da butique Oliviers & Co, diz que o mercado brasileiro deve crescer cerca de 20% este ano. ¿Assim como muitos brasileiros aprenderam a apreciar um bom vinho, também houve interessados em provar os bons azeites.¿

Apesar de acessíveis a poucos - um litro pode chegar a R$ 100 -, os azeites premium caíram no gosto do consumidor graças a suas propriedades benéficas para o sistema circulatório e digestivo.

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