Título: Brasília põe escala de médico na porta de hospitais e reduz faltas ao trabalho
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2008, Vida&, p. A14

Também em postos, painel traz, além do nome dos profissionais, telefone para reclamação; medida gera polêmica

Uma decisão administrativa simples e polêmica está se revelando um dos melhores remédios para a saúde pública de Brasília. As constantes faltas dos médicos ao trabalho caíram 22% desde que o governo do Distrito Federal (DF), há exatos dois meses, mandou afixar diariamente em painéis nos centros de saúde e hospitais as escalas dos profissionais de serviço.

Além de nome por nome de cada médico, o painel mostra também o telefone da ouvidoria da Secretaria da Saúde para que os pacientes possam reclamar do atendimento ou da ausência do médico escalado para o trabalho diário ou plantão.

Os resultados da medida são evidentes, mas azedaram o relacionamento entre o presidente do Sindicato dos Médicos do DF, César Galvão, e o secretário da Saúde, Geraldo Maciel. Duas semanas atrás, em uma das primeiras reuniões do início da campanha salarial dos médicos, Galvão agrediu Maciel em uma sala da sede do governo distrital e foi preciso chamar os seguranças para conter o médico sindicalista. Para discutir o reajuste, o sindicato marcou uma assembléia para hoje, às 20h. Há indicativo de greve, e paralisação marcada para o próximo dia 22.

AUSÊNCIAS

A norma dos painéis com os nomes dos médicos começou a ser aplicada no dia 7 de fevereiro, depois que uma auditoria nos hospitais descobriu ausências consideráveis e falhas graves no atendimento da capital federal e demais instituições das cidades-satélites.

Só no ano passado, 1.486 médicos do DF - mais de um terço do total - somaram 32.288 dias de afastamento do trabalho. ¿Isso dá, em média, quase 22 dias de ausência por médico. É quase um mês de férias¿, contabiliza o secretário Maciel. Licenças para tratamento de interesse, gestante ou licenças-prêmio - todas previstas em lei - somaram ainda outros 15.167 dias de ausência para 264 médicos. ¿Somando tudo, é com se tivéssemos 130 médicos recebendo sem trabalhar todos os dias do ano. O custo para o GDF passa de R$ 16 milhões no ano¿, informou o secretário.

Desde a conclusão da primeira auditoria, os diretores de três Hospitais Regionais - das cidades-satélites de Ceilândia, Taguatinga e Gama - foram afastados por má gestão. No HRT (Taguatinga), 73% dos funcionários não cumpriam as escalas de trabalho. No HRG (Gama) havia, em média, 50 atestados médicos apresentados por semana. Num caso recente, a diretora de um hospital encontrou em casa, dormindo, um dos médicos que deveriam estar de plantão num pronto-socorro que tinha dezenas de pacientes esperando por atendimento. ¿A maior parte dos médicos é de profissionais responsáveis. Uma minoria é que se aproveitava da situação e atrapalhava o atendimento do público e o trabalho de todos¿, diz o secretário. A portaria com escalas, justifica Maciel, só manda que hospitais públicos façam o mesmo que os particulares de Brasília já fazem.

O Sindicato dos Médicos, no entanto, reclama que a portaria expõe ao risco os profissionais e é discriminatória. O SindMédico chegou a entrar na Justiça pedindo uma liminar para pôr fim à afixação das escalas, que foi negada. Agora, entrou com agravo pedindo a revisão da portaria. ¿Nunca fomos contra a exposição, mas com a maneira discriminatória que foi feita. Deveria ser feita para todos os funcionários¿, alega o presidente do sindicato, o cirurgião pediatra César Galvão. Na verdade, entram na lista todas as categorias, como enfermeiros e dentistas.

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