Título: Bons preços e boas políticas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2008, Notas e Informações, p. A3

Há fortes sinais de um surto de bom senso no mundo em desenvolvimento, segundo os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os sintomas vêm sendo assinalados há tempos em documentos da instituição e novos dados animadores aparecem na edição de abril do Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook). Esses dados são o tema central de um estudo sobre Globalização, Preços de Commodities e Países em Desenvolvimento. Dessa vez, segundo o trabalho assinado pelos técnicos Nikola Spatafora e Irina Tytell, os países emergentes souberam tirar proveito do ciclo de alta dos produtos básicos, ao contrário do que aconteceu noutras ocasiões, quando os ganhos obtidos com os bons preços foram em grande parte desperdiçados.

O Panorama circula uma vez por semestre, na reunião de primavera, em abril, e na assembléia anual do FMI e do Banco Mundial, em geral realizada em setembro ou outubro. O texto completo será divulgado na próxima quarta-feira, num dos eventos preparatórios da reunião de abril. Capítulos analíticos, dedicados a temas de longo prazo, como esse a respeito das commodities, são distribuídos habitualmente uma semana antes da reunião.

Os capítulos sobre a conjuntura internacional são apresentados com o relatório completo. Também deverão conter dados positivos sobre as economias emergentes. Também estas serão afetadas pela crise originada no mundo rico, mas ainda conseguirão manter um bom ritmo de atividade, segundo a avaliação antecipada na quinta-feira pelo economista-chefe do FMI, Simon Johnson.

O artigo sobre o mercado de commodities, isto é, de produtos básicos, aponta algumas diferenças muito importantes entre a fase de alta iniciada há alguns anos e os ciclos do passado. Os volumes de exportação desses produtos cresceram mais velozmente do que nos ciclos anteriores. Além disso, o aumento das vendas de commodities foi acompanhado de exportações crescentes de manufaturados. Ao mesmo tempo, os investimentos produtivos se elevaram, financiados com recursos tanto nacionais quanto estrangeiros, mas o endividamento externo foi menor do que noutros períodos de prosperidade. Quando o atual ciclo de alta de preços terminar, os emergentes estarão em melhores condições econômicas e financeiras do que no final de outros períodos de mercado favorável.

Nos últimos 20 anos, a participação das exportações no Produto Interno Bruto (PIB) aumentou na maior parte das economias em desenvolvimento. Os autores do estudo atribuem apenas uma parte desse aumento à elevação dos preços das commodities. Explicam cerca de metade daquela variação por outros fatores, como a melhora das instituições, a ampliação do financiamento e a correção de muitas distorções políticas. Controles cambiais foram reduzidos, tarifas aduaneiras foram rebaixadas e o câmbio se tornou mais adequado. Além do mais, o acesso a outros mercados ficou mais fácil (embora o protecionismo em alguns setores permaneça elevado, como poderiam ter acrescentado os autores do estudo).

A alta de preços dos produtos básicos, portanto, ocorreu, desta vez, em condições de política econômica muito diferentes daquelas predominantes até há poucos anos. Não ocorreu apenas um alteração dos termos de troca em favor das economias em desenvolvimento. Novas políticas adotadas nessas economias facilitaram não só ganhos temporários no comércio exterior, mas uma maior integração nos mercados globais, com maior abertura, menores limitações à atividade empresarial, fundamentos econômicos mais sólidos e ganhos importantes de produtividade.

Esse é o quadro geral. O estudo é muito mais detalhado no exame de como evoluiu o comércio de cada região e em cada tipo de mercado (combustíveis e produtos agrícolas, por exemplo). Mas a descrição mais ampla é suficiente para dar uma idéia de como o presente ciclo de valorização das commodities se diferencia dos anteriores.

A pauta de reformas, no entanto, permanece incompleta. Em vários países, como no Brasil, é preciso avançar em várias frentes - educação, tributação, pesquisa, reforma orçamentária, etc. - para se conseguir uma integração mais proveitosa na economia global. A análise recém-divulgada pelo FMI contém bons argumentos a favor da persistência na política de reformas.

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