Título: Operação dossiê foi deflagrada há 2 meses
Autor: Nogueira, Rui ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2008, Nacional, p. A8

Governo se mobilizou para ¿dar troco¿ aos ataques da oposição

Rui Nogueira, Vera Rosa e Christiane Samarco

O dossiê montado e divulgado para tentar intimidar a oposição e constranger o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ex-primeria dama Ruth Cardoso tem dia, hora e mês de nascimento. A certidão também aponta os pais do vício que faz da pressão uma prática de defesa.

O dossiê foi gerado no dia 1º de fevereiro, por volta das 14 horas, quando começou a entrevista de demissão da então ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), no rastro das notícias sobre gastos irregulares com cartões corporativos do governo. Diante daquela demissão e da pressão da oposição por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a base governista cristalizou a idéia de que era preciso buscar dados para mostrar que os gastos reservados da gestão Lula eram iguais aos do governo anterior.

Na primeira semana de fevereiro, conversas no Planalto entre ministros e o próprio presidente transformaram o que era para ser um levantamento de dados em defesa do governo Lula numa peça para ¿dar o troco¿ no governo FHC. Os líderes do governo tinham certeza de que a oposição queria, com a investigação em torno dos cartões, achar compras que a primeira-dama Marisa Letícia teria feito na Daslu, de São Paulo.

No Congresso, a base governista, capitaneada pelo PT, dizia que os gastos de Lurian Cordeiro, filha do presidente, com segurança e alimentação, seriam contrapostos, por exemplo, a gastos do filho de FHC, Paulo Henrique, com jantares em Roma. A empresários, a ministra Dilma chegou a confessar em tom de desabafo: ¿Não vamos apanhar quietos¿.

No dia 6 de fevereiro, ministros que conversaram com o Estado traçaram o roteiro do ¿troco¿. Nos dias seguintes, em reuniões no Planalto, sempre com os ministros Dilma, Paulo Bernardo (Planejamento) e Franklin Martins (Comunicação) coordenando os trabalhos, o governo foi mobilizando a tropa da coleta nos ministérios e dentro do Planalto.

No dia 13 de fevereiro, o Estado descreveu ¿a guerra de ameaças¿ que tomava conta do Congresso. No dia 19, outra reportagem explicitava: Planalto prepara dossiê sobre era FHC para enfrentar CPI dos Cartões. Nenhum desmentido foi feito. Dia 29, já com o dossiê circulando no Congresso e noticiado pela revista Veja, outra reportagem constatava: Dossiê da Casa Civil contr a FHC foi decisão de governo. A Folha de S. Paulo, no dia 28, apontou Erenice Guerra, a secretária-executiva de Dilma, como a operadora da montagem do dossiê. Ontem, a Folha mostrou também que os dados dos arquivos da Casa Civil haviam sido pinçados para montar o dossiê. Sem manipulações.

Entre a coleta de dados e a divulgação, houve pelo menos um encontro do presidente Lula com a base aliada, no Planalto. Numa das conversas descontraídas, o presidente fez um comentário garantindo que as investigações da CPI não iria encontrar ¿nada de importante¿ nem sobre ele e dona Marisa nem sobre FHC e Ruth Cardoso. Mas arrancou gargalhadas quando emendou com uma observação jocosa, dizendo que a diferença entre os dois casais estava no ¿gosto refinado¿ dos tucanos. As planilhas do dossiê estão repletas de informações sobre vinhos, champanhes, ¿carnes finas¿, charutos e outros ¿produtos elitistas¿. Na CPI, o ministro Jorge Hage (Controladoria Geral da União), fez questão de dizer que a compra da tapioca, por R$ 8,30, pelo ministro Orlando Silva (Esportes), era uma informação que denotava ¿preconceito¿.

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