Título: BC não pode dar aviso e voltar atrás, alerta Ilan
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2008, Nacional, p. B6

Ex-diretor do Banco Central acredita que a taxa básica de juros (Selic) será elevada na reunião da semana que vem do Copom

O ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da Ciano Investimentos, Ilan Goldfajn, afirmou ontem que o BC deverá subir os juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na terça e quarta-feiras da próxima semana. Segundo ele, depois dos sinais que a autoridade monetária passou de que agiria nessa direção, a manutenção da Selic poderia causar danos à credibilidade do BC.

Será divulgado nesta quarta, 9, o IPCA - índice usado como referência para a meta de inflação. Este número deve influenciar a decisão do Copom na próxima semana. Acompanhe o resultado e as repercussões no portal do Estadão

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¿O aviso foi dado. Dificilmente o BC dá avisos desse jeito e depois volta atrás¿, disse Ilan, que fez palestra sobre a conjuntura internacional para a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados. Ele evitou fazer projeções, mas considera razoáveis as estimativas da pesquisa realizada pelo BC com analistas de mercado, que prevêem uma taxa de 12,5% ao ano no fim do ano.

O ex-diretor do BC reconhece que a alta dos juros poderia estimular o ingresso de capitais no Brasil no curto prazo, afetando o câmbio. Mas ponderou que, de outro lado, o mundo passa por um momento de incerteza nas economias centrais, o que atuaria na direção de conter um forte fluxo de capitais.

Além disso, explicou, como o real já teve grande valorização, os investidores percebem que o risco de uma desvalorização da moeda brasileira é maior, o que contribui para evitar uma disparada de dólares para o Brasil.

Goldfajn avalia que o BC fala em agir preventivamente porque considera haver riscos de a economia não ter capacidade de suprir a demanda por bens, que está aquecida. ¿A idéia do BC é trabalhar para conter o nível de atividade de modo a alongar o período de crescimento, pois é melhor crescer 4,5% por alguns anos do que crescer 7% em um e depois ter uma forte queda no nível de atividade.¿

Outro ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman, atual economista-chefe do Banco Real para América Latina, elevou suas projeções para a Selic em 2008. ¿Estamos mudando nossa estimativa para a Selic de 11,25% para 13,25% no fim do ano, começando com alta de 0,25 ponto na próxima reunião¿, escreveu, em nota para clientes.

Ele lembra que, por um longo período em 2007 e até o início deste ano, ele e a economista-chefe do banco, Zeina Latif, foram considerados ¿falcões¿ em se tratando de política monetária. ¿Quando o consenso era de que a Selic continuaria a cair (mesmo depois de o BC ter parado o ciclo de afrouxamento), nossa aposta era de estabilidade da taxa tão longe até onde os olhos pudessem enxergar e mantivemos nosso ponto de vista enquanto o consenso do mercado foi mudando para uma postura mais dura¿, afirmou.

SEM COMENTÁRIOS

Em Porto Alegre, o presidente do BC, Henrique Meirelles, evitou falar sobre juros. Durante palestra para cerca de 5 mil participantes da 21ª edição do Fórum da Liberdade, ele disse que as mais importantes reformas que o Brasil fez nos últimos anos foram as estabilizações monetária e fiscal.

Na palestra, Meirelles fez uma referência genérica à taxa de juros, sem entrar na discussão deste momento. ¿Quando aumenta a previsibilidade da economia várias coisas acontecem¿, disse. ¿Uma delas é a queda da taxa de juros real, que embute o risco da inflação. Não só a taxa média está caindo, como a volatilidade está caindo.¿

Em sua passagem pela capital gaúcha, Meirelles não deu entrevistas, alegando estar impedido de fazer comentários conjunturais porque, como presidente do BC, está impedido de se manifestar às vésperas da reunião do Copom. COLABORARAM ELDER COGLIARI E LUCIANA XAVIER

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