Título: Colombianos marcham por liberdade
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2008, Internacional, p. A28

Milhares de pessoas saem às ruas exigindo um acordo humanitário que permita a libertação dos reféns das Farc

Roberto Lameirinhas

Em Bogotá e várias outras cidades colombianas, milhares de pessoas saíram ontem às ruas para demonstrar sua rejeição às ações violentas da guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e exigir um acordo humanitário que permita a imediata libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e dos demais reféns do grupo. Portando faixas e cartazes e gritando slogans como ¿A Colômbia quer paz!¿, a marcha na capital ocupou boa parte da Carreira 7º, a principal avenida da cidade.

Sindicatos de trabalhadores, grupos de defesa de direitos humanos, parentes de seqüestrados e alguns ex-reféns das Farc, como o senador Jorge Géchen - libertado em fevereiro, depois de seis anos de cativeiro -, desafiaram o mau tempo da manhã de ontem em Bogotá e participaram da manifestação. Bastante recuperado dos dois enfartes que sofreu durante o tempo em que esteve seqüestrado, Géchen atribuiu sua melhora ao estímulo que recebeu por ¿voltar a conviver¿ com sua família.

¿Defendemos o envolvimento de toda a comunidade internacional para que cheguemos a um acordo humanitário que permita a libertação de todos os companheiros que continuam reféns¿, afirmou Géchen. O senador voltou a agradecer as gestões do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e da senadora colombiana Piedad Córdoba - que, desde janeiro, resultaram na liberdade de seis reféns.

Alguns slogans da manifestação na capital pediam ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, que se abstivesse de lançar uma operação militar para tentar libertar os reféns. ¿Isso seria o mesmo que condená-los à morte¿, disse ao Estado o dirigente da organização não-governamental Red Solidariedad, Carlos Pérez.

INTERPOL PROCURA GRANDA

Em meio ao clima de rejeição às Farc por parte da população, Uribe declarou numa cerimônia na Universidade Javeriana, a poucas quadras da concentração popular, que estuda rever a situação jurídica do dirigente da guerrilha Rodrigo Granda, que na véspera praticamente pôs fim à possibilidade de um acordo humanitário mediado pela França para libertar Ingrid.

Granda, considerado o ¿chanceler¿ das Farc, afirmou que nenhum outro refém seria libertado de forma unilateral fora do contexto de um acordo que liberte também os cerca de 500 guerrilheiros presos pelo governo. ¿Granda foi libertado (em junho) num gesto de boa vontade do governo para que servisse de facilitador de um acordo humanitário¿, disse Uribe. ¿É preciso avaliar se ele está nessa tarefa ou se se reintegrou às Farc. Neste caso, sua situação precisa ser revista.¿

Capturado em Caracas em 2004, num episódio que abalou as relações entre Venezuela e Colômbia, Granda é réu em diversos processos por seqüestro e assassinato em seu país e é procurado pela Interpol a pedido do Paraguai - que o acusa de envolvimento no seqüestro, seguido de morte, de Cecília Cubas, filha do ex-presidente paraguaio Raúl Cubas. Cecília, seqüestrada em setembro de 2004 perto de Assunção, foi encontrada morta em fevereiro de 2005. Granda nega envolvimento. Horas depois das declarações de Uribe, a Interpol confirmou ter emitido uma ordem internacional para a captura de Granda. Fontes da inteligência colombiana citadas pela Associated Press afirmaram que Granda pode estar na Venezuela ou em Cuba.

Ainda ontem, o governo colombiano anunciou que pagará uma recompensa de US$ 2,7 milhões à pessoa que forneceu as informações que permitiram a localização do líder guerrilheiro Raúl Reyes, morto no Equador no mês passado.

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