Título: Para economistas, taxa Selic não deveria subir já. Mas vai subir
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2008, Economia, p. B7

Inflação alimentada por demanda acima da oferta exige uma calibragem para equilibrar crescimento econômico

Embora o Ministério da Fazenda avalie que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria no mínimo esperar até junho para iniciar um ciclo de aperto monetário, economistas do mercado que estão entre os que mais acertam projeções de inflação e juros na pesquisa Focus do Banco Central (BC) concordam com a provável elevação da Selic na reunião desta semana.

A avaliação majoritária é que a atividade econômica está muito forte, em um ambiente de inflação em alta e, por isso, seria justificável provocar um arrefecimento na economia para que a inflação não se desgarre da meta de 4,5%.

¿A gente tem claro que existe certo exagero no ritmo de crescimento da demanda na economia, que cresce em ritmo mais forte que a oferta. Por isso, é necessária uma sintonia fina¿, afirma o economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Paulo Barcellos. ¿A demanda está acima do que seria razoável e as importações não são capazes de suprir totalmente o descasamento entre oferta e demanda. É necessária uma calibragem da política monetária para equilibrar o crescimento econômico.¿

Ele ressalta que não pode haver um choque de juros, porque causaria prejuízos à economia. Barcellos trabalha com um IPCA de 4,7% em 2008 e 4,2% em 2009, em um cenário que contempla os juros em 13% ao ano no fim deste ano.

ALTA JUSTIFICÁVEL

O economista-chefe do Banco Schain, Silvio Campos Neto, avalia que o enfraquecimento da economia mundial e a possibilidade de redução nos preços das commodities agrícolas permitiriam que o BC esperasse mais antes de agir. Mas, diante dos últimos indicadores econômicos, especialmente o IPCA de março, acima das expectativas, ele considera justificável uma alta na Selic.

¿Há uma semana minha resposta seria outra. Mas os últimos indicadores foram mais preocupantes e por isso entendo o comportamento do BC¿, afirma Campos Neto. ¿Talvez esperar até junho não trouxesse problemas, mas não dá para criticar a ação do BC¿, diz ele, que prevê o IPCA em 4,45% este ano e 4,3% em 2009 e uma alta de 1,5 ponto na Selic até setembro, para 12,75%.

O economista-chefe do Credit Suisse Hedging Griffo, Elsom Yassuda, concorda com a cautela do BC. ¿Eu gosto de ter bancos centrais que não gostam de correr riscos inflacionários. Isto é um bem para o País.¿

Segundo ele, o BC tem hoje duas opções: esperar a desaceleração natural do ritmo de atividade gerada pela interrupção dos cortes na Selic em 2007 ou minimizar os riscos de inflação por meio de uma elevação nos juros. ¿Acho que o BC está optando pela trajetória que tem menos risco¿, diz Yassuda, que espera um ciclo curto de aperto monetário, que se encerra com uma alta total de 1,50 ponto porcentual, para 12,75%.

Ele destaca ainda que os riscos hoje para o controle de preços são mais altos, porque a inflação este ano já está mais alta, há uma dinâmica incômoda das commodities e a atividade econômica está ¿bastante aquecida¿. O economista prevê inflação de 4,8% este ano e entre 4,4% e 4,5% para 2009, já respondendo à elevação de juros que devem ocorrer neste ano.

O economista-chefe do banco BBM, Tomás Brisola, que prevê alta de 0,50 ponto porcentual na Selic nesta semana, para 11,75%, também concorda com a decisão do BC.

¿O movimento de elevação da inflação é claro desde o ano passado. Há elementos que indicam que o descompasso entre oferta e demanda pode persistir e, por isso, o BC tem de aproveitar que a inflação está na meta para agir¿, diz, destacando que a subida da inflação, que já está ligeiramente acima de 4,5% em 12 meses, foi rápida e não é possível se vislumbrar o fim do movimento de alta dos alimentos. ¿A ação já não será mais 100% preventiva¿, afirma.

Ele ressalta que, ao contrário do ano passado, quando os riscos começaram a ser percebidos, o BC já não tem mais a folga de uma inflação razoavelmente abaixo da meta e uma conta corrente do balanço de pagamentos superavitária. ¿Esta gordura não existe mais¿, afirma.

Para Brisola, a forte reversão da conta corrente, que passou de um superávit de 1,3% do PIB em 2006 para este ano possivelmente fechar com um déficit de 1,5% do PIB, reflete o descompasso entre oferta e demanda, que tem sido suprido com as importações.

¿Esta situação espelha a falta de oferta para atender à demanda. Se continuar assim, no ano que vem chegaremos a um déficit de 3% do PIB na conta corrente¿, diz Brisola, explicando que um déficit muito elevado pode ser problemático, caso a situação internacional dificulte o financiamento da economia, o que não ocorre hoje.

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