Título: Empresários criticam BC e alertam para efeito negativo no investimento
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2008, Economia, p. B8

Segundo presidente da Abimaq, provável alta da Selic está levando muitas empresas a adiar planos de expansão

Os empresários brasileiros abriram guerra contra o Banco Central (BC). A provável elevação da taxa básica de juros (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na terça e na quarta-feira produziu diversos tipos de avaliação, todas evidentemente negativas. A diferença é o grau de cada uma.

As mais pessimistas chegam a cogitar uma paradeira nos investimentos, como fica claro no discurso do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto.

Ele afirma que muitos investimentos privados estão parados, à espera de uma definição. ¿Vários setores com projetos de longo prazo estão adiando suas decisões¿, diz. ¿Petróleo e gás, açúcar e álcool e indústria automobilística vão investir bilhões¿, diz Aubert Neto. ¿Quando se aumenta o custo (do dinheiro), querem saber quanto isso vai pesar.¿

Essa situação apontada pelo setor de máquinas e equipamentos é a versão mais radical de um alerta emitido na semana passada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Estudo elaborado pela entidade mostra que, em 2004, quando o País passou por um momento semelhante ao atual e o juro subiu, a grande vítima foram os investimentos - e não o consumo das famílias, que esteve no centro das pressões de preço na época e ressurge como foco inflacionário agora.

Nos 12 meses seguintes ao aumento dos juros, em setembro de 2004, o investimento caiu. O consumo, porém, continuou subindo, embora a taxas um pouco menores.

IGUAL A 2004?

Não é líquido e certo que o investimento vá despencar ao primeiro sinal de alta dos juros, conforme reconhece o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto. ¿O quadro hoje é diferente do que era em 2004¿, afirma. O mercado interno mais forte é um dos fatores que podem fazer a diferença em 2008.

Ele diz torcer para que os industriais mantenham seus planos, dentro de uma visão de longo prazo. Mas observa que, de qualquer maneira, a eventual elevação dos juros - em 0,25 ou 0,50 ponto porcentual - coloca um elemento de incerteza nas decisões empresariais.

O risco, aparentemente inevitável, de o Banco Central atirar no consumo e ferir o investimento vem gerando frustração generalizada no setor produtivo.

O diretor do Departamento de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, diz que a volta do aperto monetário (alta dos juros) é como ¿uma traição¿ aos empresários que apostaram e investiram no Brasil.

¿O setor produtivo esteve permanentemente estimulado a investir no período recente. Esse estímulo foi gerado pelo aumento da demanda e pelos sinais do governo de que haveria novos estímulos à atividade econômica. Investimos para que a economia brasileira pudesse, finalmente, ter crescimento sustentável¿, afirma Francini. ¿Mas uma alta do juro, seja de 0,25 ponto porcentual ou de 0,50 ponto, representa uma mudança de regras desse jogo que está em curso¿, completa.

Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), expressa revolta com a situação. ¿É a primeira vez que estamos crescendo sem inflação. Agora, ao primeiro espirro, vamos tomar remédio para pneumonia?¿, indaga. Ele explica que o empresário toma suas decisões levando em conta dois cenários: as intenções do governo e o que está ocorrendo nas fábricas.

¿Se tivermos um cenário positivo pelo lado das vendas e um negativo pelo lado do governo, o negativo acaba superando o positivo¿, argumenta Barbato.

¿É muito preocupante, vai acender o sinal amarelo¿, reforça José Luiz Fernandez, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Mobiliário (Abimóvel) e dono da fábrica de móveis German, localizada no Distrito Federal.

Ele está importando máquinas e treinando mão-de-obra, e não pretende suspender os planos por causa de uma decisão do Banco Central. ¿Mas tudo vai depender do mercado¿, diz. ¿Se começar a haver retração, será necessário repensar.¿

IMPACTO NA EXPORTAÇÃO

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirma que o juro mais alto também vai colocar dificuldade adicional ao exportador, cujas vendas ficam mais caras em dólares.

No sentido contrário, ele chama atenção para a perspectiva de que o volume de importações cresça ainda mais, inclusive em bens de consumo.

Mais otimista, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, afirma não estar preocupado com uma eventual elevação da taxa de juros. ¿Eu vejo mais como um repique, um ajuste para depois continuarmos o processo de crescimento¿, diz. ¿A taxa pode subir, mas daqui a cinco ou seis meses deve cair novamente.¿

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