Título: Mantega quer mais acesso a créditos do FMI
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2008, Economia, p. B12

Ministro defende `pronto socorro¿ a países com problemas de liquidez

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ontem, em Washington, maior acesso aos financiamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a adoção de duas novas linhas de crédito: uma preventiva e outra emergencial, que serviria como uma espécie de pronto-socorro aos países com problemas de liquidez. Esta última inovação deveria permitir ao Fundo ações de emergência semelhantes àquelas conduzidas nos últimos meses pelos grandes bancos centrais na tentativa de conter os efeitos da crise financeira. A defesa dessas posições é parte da campanha do ministro pela reforma do sistema de cotas e de votos do Fundo, vantajosa para o Brasil.

Mantega está empenhado em ganhar o apoio da Rússia e da Argentina à aprovação da reforma. Uma nova fórmula para o cálculo de cotas e votos foi aprovada pela Diretoria Executiva do FMI no mês passado, com apoio de 19 das 24 cadeiras, e apresentada para aprovação dos 185 países membros. As cadeiras de Rússia, Arábia Saudita e Irã votaram contra, na Diretoria Executiva, e as da Argentina e do Egito se abstiveram. Com a reforma, Argentina e Rússia perdem poder de voto. Cada um dos 24 diretores fala em nome de um país, no caso dos maiores sócios, ou de um grupo de países associados. O diretor brasileiro, por exemplo, representa seu país e mais oito. O argentino representa um total de nove.

O governo argentino está disposto a aceitar a mudança, no entanto, caso o acesso às linhas normais de financiamento do Fundo seja ampliado. Pelas normas atuais, cada país está limitado a receber empréstimos equivalentes ao triplo de sua cota. Sem explicitar a troca, o ministro da Economia da Argentina, Martín Lousteau, defendeu a ampliação do acesso de 300% para 500%, em seu discurso na reunião do Comitê Monetário e Financeiro do FMI, órgão político formado por 24 ministros.

Além de apoiar essa pretensão em seu discurso no Comitê, Mantega reuniu-se ontem com Lousteau para conversar sobre a reforma. Sua agenda incluía também um encontro bilateral com o ministro de Finanças da Rússia, Alexei Kudrin.

Mantega aproveitou o discurso para, mais uma vez, acusar o FMI de ser leniente com os países mais poderosos e muito ágil na apresentação de recomendações aos demais. Segundo ele, o Fundo demorou a diagnosticar os problemas nos sistemas financeiros dos Estados Unidos e da Europa.

AGENDA DE REFORMAS

Mantega aproveitou também para novamente elogiar, como havia feito em entrevista à imprensa no dia anterior, o novo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, e defender a agenda de reformas por ele conduzida. Se a mudança for aprovada, o poder de voto do Brasil subirá de 1,4% para 1,7% do total. O poder de sua cadeira, por sua vez, subirá de 2,4% para 2,8%.

Strauss-Kahn, avalia Mantega, acertou ao recomendar um ¿estímulo fiscal global¿ - na prática, aumento de gastos - para contenção da crise internacional. Mas corrigiu-se logo em seguida. A recomendação vale para os países com espaço para aumento de despesas em seus orçamentos.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, falou a favor da reforma e defendeu um papel mais amplo para o FMI, com uma participação maior da instituição no trabalho de supervisão dos mercados e de prevenção de crises. Além disso, apoiou a reforma financeira interna planejada pelo novo diretor-gerente e recomendou a redução da Diretoria Executiva de 24 para 22 cadeiras em 2010 e para 20 cadeiras em 2012. Sai muito caro, segundo ele, manter essa diretoria. Mantega também defende a reforma financeira interna do FMI, mas não chegou a falar em redução do número de diretores executivos.

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