Título: A inflação ataca
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2008, Economia, p. B2
O aumento do custo de vida em março, medido pelo IPCA, veio pior do que o esperado e dá razão ao Banco Central, que vinha farejando estragos no valor da moeda produzidos por uma inflação de demanda em formação.
O avanço no mês foi de 0,48%, bem acima das projeções dos analistas. A Pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com cerca de cem consultores, apontava uma estimativa de inflação mais baixa, de 0,35%.
O número de março é o mais alto para o mês desde 2005. Apenas no primeiro trimestre do ano a inflação já acumula um avanço de 1,52%. Em 12 meses, são 4,73%, desgarrando-se do centro da meta do ano, que é 4,5%. (Veja o gráfico.) A agravante é que, desta vez, não se pode dizer que apenas um produto ou serviço explica a esticada dos preços, como no passado ocorreu com a alta do feijão e até do chuchu. O avanço dos preços está espraiado por toda a economia.
O Banco Central vinha argumentando, por meio de seus instrumentos regulares de comunicação com o mercado (Ata do Copom e Relatório de Inflação) e pelos pronunciamentos dos seus dirigentes, que uma inflação de demanda estava sendo formada no horizonte. Por inflação de demanda entendam-se as pressões de alta dos preços que se formam pelo descasamento entre um consumo mais forte e a oferta insuficiente de mercadorias e serviços.
De fato, os números macroeconômicos indicam que as vendas do comércio varejista avançam entre 7% e 8% ao ano, enquanto a produção está ao redor dos 5%. Em princípio, as importações poderiam ajudar a completar a oferta, mas há os produtos ou serviços que não se encomendam no exterior, como energia elétrica, aluguel, dentista, planos de saúde, etc.
O aviso do Banco Central era que, se nada fosse feito, a tendência seria de inflação crescente, uma vez que não há indicação de que nos próximos meses uma oferta mais robusta possa dar conta da demanda.
Essas advertências foram consideradas ¿terroristas¿ por um bom número de analistas, pois as estatísticas disponíveis ainda não permitiam concluir que o perigo de desgarramento dos preços fosse forte o suficiente para justificar uma esticada nos juros.
O Banco Central estava preparando os espíritos para uma ação preventiva com os juros. Ainda assim, se a inflação de março viesse inofensiva, aí à altura do 0,2%, seria possível esperar que na próxima reunião, marcada para o dia 16, o Copom desistisse de elevá-los. A partir dos números da inflação ontem conhecidos, provavelmente a alta dos juros já não será apenas prevenção; será reação. A pergunta agora é se, em vez do aumento de 0,25 ponto porcentual, o Copom não irá dobrar a dose.
Há duas semanas, o ministro Guido Mantega sugeria que alguma coisa deveria ser feita para conter o consumo, de maneira a evitar que o Banco Central puxasse os juros para cima. A idéia era reduzir o prazo dos financiamentos, sugestão descartada por sobrecarregar o setor de veículos e o de aparelhos domésticos. Agora, se for para ajudar a política monetária (política dos juros), sobra a opção de cortar as despesas públicas para que menos dinheiro do governo seja canalizado para os fornecedores e daí para o consumo.
Recorde - As cotações do petróleo atingiram ontem a máxima histórica de US$ 112,21 por barril de 159 litros em Nova York. O motivo para a nova marca foi a redução maior do que a esperada dos estoques americanos de petróleo e derivados.
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