Título: FMI prevê alta de 4,8% no PIB do País
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2008, Economia, p. B4

Fundo revisa projeção para a economia brasileira, que era de 4,5%; para os EUA, previsão é de recessão moderada

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou de 4,5% para 4,8% a previsão de crescimento para a economia brasileira em 2008. Só as previsões para o Brasil e para a Rússia foram revistas para cima, desde janeiro, quando as últimas atualizações haviam sido divulgadas. Até 2009 a economia mundial permanecerá em marcha lenta e os Estados Unidos enfrentarão uma recessão moderada neste ano, segundo as projeções anunciadas ontem. O conjunto dos países mais avançados crescerá apenas 1,3% em cada um desses dois anos (ver gráfico).

¿A economia brasileira tem ido muito bem desde o ano passado e o quarto trimestre foi melhor do que havíamos previsto¿, disse o diretor-assistente do Departamento de Pesquisa Econômica do Fundo, Charles Collyns. Os números do fim do ano, desconhecidos em janeiro, foram levados em conta na elaboração das projeções apresentadas ontem. O Brasil será afetado pelo enfraquecimento da economia americana, mas isso ocorrerá a partir de um nível mais alto do que se previa. O crescimento projetado para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2009 é de 3,7%.

A crise iniciada com o estouro da bolha imobiliária americana ainda vai produzir muito estrago, segundo o FMI. Entre 2007 e 2008, os preços de residências nos Estados Unidos cairão entre 14% e 22%, dependendo do índice de comparação. O ajuste do mercado será lento, o crédito continuará apertado e o consumo cairá.

A projeção para a economia americana é de crescimento de 0,5% neste ano e 0,6% no próximo, mas o quadro fica mais feio quando olhado em detalhe. A comparação do quarto trimestre de 2008 com o mesmo período de 2007 deverá mostrar uma contração de 0,7%. A recessão será moderada, mas a recuperação será lenta e o mundo todo sofrerá efeitos da estagnação nos EUA. O contágio será muito sensível na zona do euro, com crescimento previsto de 1,4% neste ano e 1,2% no próximo. Em alguns países europeus, deverá haver também um penoso ajuste nos preços dos imóveis. A Espanha é o exemplo mais notório, na Europa, de país afetado pela bolha imobiliária.

Nas economias emergentes e em desenvolvimento, os efeitos diretos da desaceleração americana e das tensões no mercado financeiro foram até agora menos pronunciados do que em outros episódios, segundo o FMI. ¿Esquemas melhores de política econômica, crescente comércio intra-regional, ganhos de produtividade e preços altos de produtos básicos contribuíram para a resistência¿, comentou numa entrevista o economista-chefe do Fundo, Simon Johnson.

O crescimento desses países passará de 7,9% em 2007 para 6,7% em 2008, mas, apesar da redução, continuará muito superior à média mundial. A expansão será liderada por China e Índia, mas os demais emergentes, incluídos o Brasil e outros sul-americanos, também crescerão vigorosamente.

As pressões inflacionárias têm crescido, no entanto, apesar do menor dinamismo da economia mundial. Os índices de inflação têm refletido principalmente a alta das cotações do petróleo e dos produtos agrícolas.

A inflação em alta é um dos fatores de preocupação tanto no mundo rico quanto nas economias emergentes e em desenvolvimento, segundo Simon. Ao mesmo tempo, os governos devem levar em conta o risco de um agravamento das tensões financeiras e de seus efeitos sobre o crescimento econômico.

O sentimento nos mercados financeiros melhorou um pouco depois das últimas ações de socorro do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), mas permanece o perigo de um agravamento da situação. ¿Já temos visto como as tensões nos mercados podem tornar-se rapidamente auto-reforçadoras¿, disse Simon.

Diante desses perigos, a prioridade política deve ser a limitação dos estragos causados pela crise financeira. Os bancos devem reconhecer as perdas com rapidez e reconstituir prontamente seu capital.

¿A política monetária continua sendo a primeira linha de defesa¿, disse Simon. ¿Os bancos centrais de várias economias avançadas - notadamente dos Estados Unidos - corretamente afrouxaram a política de juros quando as perspectivas de crescimento pioraram e podem precisar continuar afrouxando até suas economias se firmarem.¿

A segunda linha de defesa é a política fiscal. O economista recomenda cuidado e moderação no uso desse instrumento, para não prejudicar o equilíbrio das finanças públicas no médio prazo. Além disso, nem todos os governos têm espaço no orçamento para criar estímulos fiscais.

A terceira linha de defesa é o uso de dinheiro público em operações de ajuda - expediente já usado nos Estados Unidos para refinanciamento de hipotecas e para socorrer bancos em situações de risco para o sistema.

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