Título: Lula vai reagir às críticas ao etanol
Autor: Monteiro , Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2008, Economia, p. B10

Presidente aproveitará visita à Europa para dizer que países ricos querem criar uma nova barreira comercial

O governo brasileiro decidiu contra-atacar de maneira organizada as críticas de europeus e americanos à produção de etanol e à expansão do programa de biocombustível. Aproveitando a viagem de quatro dias à Holanda e à República Tcheca, iniciada ontem em Haia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebaterá críticas com uma acusação: dirá, em Amsterdã, amanhã, diante de platéia de empresários, que os países ricos estão levantando ¿supostos riscos ambientais e sociais¿ para criar nova barreira de proteção comercial contra países pobres e emergentes.

Na viagem entre Brasília e Haia, Lula conversou com ministros e decidiu que, na volta ao País, montará um grupo de trabalho para estabelecer estratégia de combate às críticas. A ¿tropa de choque pró-etanol¿ vai envolver pelo menos quatro ministérios - Agricultura, Meio Ambiente, Desenvolvimento e Relações Exteriores - e uma rede de embaixadas. O grupo vai contatar organizações não-governamentais e a imprensa dos países mais críticos. Além de lançar um ¿livro branco do combustível limpo¿, a tropa aproveitará seminários, palestras e contatos com a mídia para falar dos ¿benefícios do etanol¿.

A senha para o trabalho vai ser dada pelo próprio Lula amanhã, ao dizer que o etanol não pode ser combatido com base em preconceitos. Lula se refere às três críticas mais constantes dos europeus: 1) questionamento sobre os benefícios do etanol no combate ao aquecimento global, alegando que a plantação de cana pode estimular a devastação de florestas; 2) responsabilizar os biocombustíveis pela expressiva alta dos preços das commodities agrícolas, o que vem elevando a inflação em todo o mundo; 3) perigo de que a produção de etanol reduza a produção de alimentos e aumente a fome nos países pobres. No caso brasileiro, há ainda a acusação de que a plantação de cana emprega trabalho escravo.

Lula dirá que as pastagens estão no Centro-Sul, em áreas já plantadas, longe da Amazônia; as plantações para a produção de biocombustível ocupam só 1% das terras agricultáveis do País, com pouco ou nenhum impacto na segurança alimentar.

Informará, ainda, que a substituição parcial da gasolina por etanol evitou a emissão de 644 milhões de toneladas de CO2 nos últimos 30 anos e gerou 6 milhões de postos de trabalho.

Para o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, que integra a comitiva de Lula, as críticas têm explicação básica: ¿A partir do momento que você passa a ser eficiente e ocupa mercados, os concorrentes contra-atacam. É o protecionismo clássico dos países europeus contra a agricultura dos países em desenvolvimento¿. Para ele, há um movimento orquestrado, o que exige reação rápida.

Segundo Jorge, ¿no caso do Brasil, não há essa questão de substituir a produção de alimentos por produção de cana. Temos enorme quantidade de terras não cultivadas. Portanto, não estaremos substituindo nada¿. Sobre o trabalho escravo, reconheceu que houve problemas em São Paulo, maior produtor de álcool, mas caracterizadas como trabalho precário, e não escravo. ¿Casos isolados são preocupação do governo, que quer acabar com isso.¿

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