Título: Frigoríficos propõem limitar exportação de bois
Autor: Salvador, Fabíola ; Inacio, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2008, Negócios, p. B5

Entidade quer que o governo crie taxa para venda de gado em pé para combater escassez no mercado interno; proposta enfrenta resistência

Fabíola Salvador e Alexandre Inacio

Frigoríficos estão pressionando o governo a limitar as exportações de gado em pé, sob a alegação de que há escassez de animais para abate no mercado interno. O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, apresentou ao Ministério da Fazenda dados que justificariam a restrição. A idéia é criar uma taxação que seja equivalente aos impostos que os frigoríficos pagam para adquirir os animais no mercado interno.

¿Queremos um equilíbrio de preços. Para comprar animais pagamos Funrural, PIS/Cofins e ICMS. Para exportar, o pecuarista não paga todos esses tributos¿, argumentou. O executivo disse que o ministério compreendeu os motivos, mas que essa seria uma decisão política e não apenas técnica.

No Ministério da Agricultura, que ainda não recebeu oficialmente o pedido dos frigoríficos, a idéia não deve prosperar. ¿O mercado é livre¿, resumiu uma fonte do ministério.

Essa também é a opinião do presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). ¿É uma piada. Não existe reserva de mercado no País¿, afirmou.

Por trás da sugestão dos frigoríficos está a alta dos preços do gado no mercado. O preço médio da arroba (15 quilos) do boi gordo encerrou a semana em R$ 77,26, o que representa um aumento de 37,77% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo os frigoríficos, a falta de animais para abate é reflexo do descarte de fêmeas ocorrido nos últimos dois anos. Nesse período, os preços do boi recuaram para níveis históricos, abaixo de R$ 50 por arroba.

RASTREAMENTO

Além disso, a decisão da União Européia (UE) de importar apenas carne de frigoríficos que adquirem animais de fazendas que cumprem todas as regras de rastreabilidade fez crescer a procura por animais rastreados.

Como menos de 100 propriedades - de um total de 10.200 fazendas - cumprem as normas do bloco europeu, os preços do boi rastreado dispararam no mercado interno.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, a diferença de preço entre animais rastreados e não rastreados é de R$ 10 por arroba, ante uma média de R$ 2 no período anterior à restrição.

Pratini de Moraes, no entanto, critica a sugestão dos frigoríficos. ¿Controlar os preços de maneira artificial não funciona. Conquistar um mercado em comércio exterior é uma das coisas mais difíceis que existem, mas reconquistar é algo ainda mais complicado¿, avaliou.

¿É fácil resolver o problema. Basta os frigoríficos pagarem o preço que é oferecido no mercado internacional¿, ironizou Nogueira. Segundo o presidente da CNA, os frigoríficos não aceitam conversar quando o preço do boi gordo recua no mercado interno.

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