Título: FMI vê risco de inflação em reajuste de salários e na expansão do crédito
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2008, Economia, p. B6

Diretor do Fundo alerta para a ameaça de pressões inflacionárias na América Latina e elogia economia brasileira

Cuidado com as negociações salariais, recomendou aos latino-americanos o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Hemisfério Ocidental, Anoop Singh. Será mais difícil conter as novas pressões inflacionárias, segundo ele, se os trabalhadores tentarem recompor o poder aquisitivo perdido com a inflação recente. A recomposição salarial, advertiu, poderá iniciar uma segunda rodada de aumentos de preços.

O aumento da inflação e a rápida expansão do crédito são fatores de risco para a América Latina, segundo o Fundo Monetário Internacional. O Brasil aparece bem na foto. O Banco Central tem feito ¿um bom trabalho¿, mantendo a inflação no alvo e as expectativas bem ancoradas, comentou Anoop Singh, ao apresentar, ontem, o Panorama Econômico Regional.

Além disso, o governo tem conseguido manter, e até com folga, o superávit primário nas contas públicas - a economia feita anualmente para o pagamento de juros. Mas o País precisa investir mais na infra-estrutura, acrescentou, e será preciso fazê-lo sem reduzir o resultado fiscal. Singh não alongou esse comentário, mas o significado aritmético é claro: para aumentar o investimento e manter o superávit primário, será preciso conter o custeio do governo.

O desempenho da economia brasileira nos últimos dois anos, disse o funcionário, foi além das expectativas do FMI. O crescimento, observou, foi sustentado pelo investimento fixo, isto é, em máquinas, equipamentos e instalações. O Brasil, afirmou Singh, está passando a um nível tecnológico mais alto e ampliando sua capacidade produtiva.

¿Pela primeira vez em muitos anos vemos elevar-se o potencial de crescimento do Brasil, e isso é uma lição para a região¿, disse Anoop Singh. Toda a América Latina, segundo ele, precisa investir mais e ganhar produtividade.

Segundo o relatório, no entanto, o investimento brasileiro foi insuficiente, até o ano passado, para permitir um crescimento duradouro no ritmo observado em 2007. Segundo estimativa apresentada numa tabela, a economia brasileira funcionou, no último ano, com um ligeiro excesso (0,2%) em relação ao nível de atividade sustentável.

O excesso foi muito maior na Argentina (2,7%) e na Colômbia (2,4%). A diferença entre a a atividade efetiva e aquela sustentável é chamada, no jargão econômico, hiato de produto.

¿A forte atividade econômica¿, segundo o relatório, ¿aumentou as pressões de demanda, enquanto o surgimento de hiatos de produto positivos em muitos países, especialmente em 2007, indica uma capacidade ociosa relativamente limitada¿. Em outras palavras, a economia muito aquecida aumentou o risco de inflação em vários países latino-americanos, incluído o Brasil.

COPOM

Essa questão é parte do debate sobre o possível aumento de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana. Em seu último boletim, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) relatou um aumento de produção, em fevereiro, com menor utilização de capacidade instalada. Segundo essa informação, os investimentos dos últimos anos estão amadurecendo e ampliando a margem de segurança.

Anoop Singh alertou também para a rápida expansão do crédito, por ele descrita como um ¿miniboom¿. Ainda há margem para um grande aumento dos empréstimos, no Brasil e noutros países da América Latina, segundo o economista, mas o crescimento veloz dos financiamentos é perigoso. Em fases de ¿boom¿, ou mesmo de ¿miniboom¿, as instituições financeiras afrouxam o controle da qualidade dos créditos e a história, segundo ele, sempre acaba mal.

De modo geral, no entanto, a América Latina está mais preparada que noutros tempos para enfrentar a turbulência internacional, segundo o FMI. No cenário considerado mais provável, o crescimento da região diminuirá moderadamente, de 5,6% em 2007 para 4,4% em 2008 e 3,6% em 2009. No caso do Brasil, a projeção de 2008 foi elevada de 4,5% para 4,8%, depois de conhecido o crescimento do último trimestre do ano passado.

Apesar de mais fortalecida nos últimos anos, a região não ficará imune aos efeitos da crise internacional. O saldo na conta corrente do balanço de pagamentos diminuirá, o crédito externo já está mais caro e o fluxo de investimento estrangeiro poderá ser reduzido.

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