Título: Varig cancela vôos internacionais
Autor: Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2008, Negocios, p. B20

Após meses de prejuízos, a empresa suspende rotas de Paris, Madri e México para se concentrar na América do Sul

A Varig anunciou ontem a interrupção dos vôos para México, Madri e Paris, a partir de 11 de maio, 12 de maio e 9 de junho, respectivamente. Com o fim dessas rotas, a Varig se despede do mercado internacional de longo curso, concentrando suas operações no mercado doméstico e na América do Sul. Pelas regras da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a empresa mantém o direito de retomar as rotas internacionais em um prazo de seis meses, a partir da interrupção.

No final de janeiro, a Varig já havia surpreendido o mercado com o anúncio do fim dos vôos para Londres, Frankfurt e Roma. Com o fim dos vôos para Europa, a TAM reinará praticamente sozinha no mercado internacional de longo curso.

Em comunicado divulgado ontem, o grupo Gol, controlador da Varig, explica que as recentes altas do preço do petróleo elevaram os custos da operação. Segundo a empresa, o combustível, que representa 40% de seu custo operacional, subiu mais de 60% no último ano.

A empresa garante, contudo, que a medida não implicará em demissões e que os tripulantes serão absorvidos em outras rotas do grupo.

O fim das linhas altera as projeções de crescimento de oferta para o ano. Pela última projeção, o grupo planejava um crescimento de 37% na oferta de assentos de Gol e Varig nos mercados doméstico e internacional. Uma nova projeção de indicadores operacionais deve ser divulgada até o início da semana.

A Varig planejava incorporar sete Boeings 767, usados nas operações de longo curso, terminando o ano com uma frota de 14 jatos do modelo. Dos sete, cinco já haviam sido incorporados este ano. Todos serão devolvidos aos arrendadores. Quando o último vôo para Paris for encerrado, Varig e Gol estarão operando apenas jatos 737-700 e 800. A expectativa é de que a Varig encerre o ano com 29 aviões e a Gol com 80.

A baixa rentabilidade das rotas internacionais, que estavam operando com uma taxa de ocupação abaixo de 50% em média, é uma das principais razões do prejuízo operacional registrado pelo grupo no ano passado, de R$ 23 milhões. Um ano antes, sem Varig, a Gol exibiu um resultado operacional positivo de R$ 701 milhões.

O grupo Gol investiu US$ 275 milhões na compra da Varig, no final de março do ano passado. Foram desembolsados US$ 98 milhões em dinheiro e o restante foi pago com 6 milhões de ações da Gol. O principal interesse da Gol eram os direitos de pouso e decolagem em Congonhas, mas a possibilidade de atender o mercado internacional também atraiu. Na época, falava-se em retomar os bons tempos da velha Varig, mas com um modelo operacional mais eficiente e voltado para o passageiro de negócios.

Mas a montagem da operação internacional se mostrou mais difícil do que o previsto. Além das dificuldades de conseguir aviões e a ginástica operacional que a empresa teve de fazer para não perder os direitos sobre as rotas, a empresa precisou desembolsar cerca de R$ 160 milhões para reabrir as bases internacionais, cobrindo dívidas herdadas da velha Varig - conta que ela agora tenta cobrar do antigo dono da Varig, o fundo americano Matlin Patterson.

Desde a primeira reestruturação internacional, quando foi anunciado o fim dos vôos para Frankfurt, Londres e Roma, a empresa assinou mais de dez parcerias com companhias internacionais. Estava investindo na padronização do interior dos aviões e em melhorias como uma nova sala VIP em Guarulhos. A expectativa era de que a partir do terceiro ou quarto trimestre, a operação internacional passaria a ser lucrativa.

No comunicado divulgado ontem, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Junior reiterou que a aquisição da Varig foi positiva: ¿O fato de a aquisição da Varig ter ocorrido em um ano atípico para o setor mostra o quanto estamos dispostos e preparados para gerenciar adversidades, sem permitir que ocorrências pontuais abalem nosso plano estratégico de crescimento de longo prazo.¿

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