Título: Alta dos juros pode continuar
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2008, Economia, p. B9

Com a divulgação do Focus-Relatório de Mercado, do Banco Central (BC), que reviu para cima as previsões de inflação, restringe-se ainda mais a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) não optar por um novo aumento da taxa Selic, de pelo menos 0,25 ponto porcentual, na sua reunião de hoje e amanhã.

O presidente da República deu seu aval a isso, embora no dia seguinte tenha desmentido essa interpretação, mas o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, repetindo o presidente Lula, voltou a afirmar: ¿Não vejo como uma alta de 0,25% ou 0,5% (da Selic) poderia ter um impacto tão grande naqueles que têm prestações a pagar.¿

Cabe dizer, em primeiro lugar, que um aumento da Selic não afeta apenas as prestações pagas pelas famílias, mas aumenta, de maneira generalizada, todas as taxas de juros exigidas pelas instituições financeiras. Assim, aumenta não apenas o crédito pessoal ou familiar, mas o crédito para todos o setores produtivos, que já estão pagando a maior taxa de juros do mundo, e que há pouco tempo foram afetados pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Como a taxa de juros é um custo, pode-se prever que sua alta afetará os projetos de investimentos que já sofrem a alta de preços dos produtos importados, especialmente os provenientes da China, que mudou sua política econômica ao desvalorizar sua moeda. Ora, o enfraquecimento dos investimentos pode acarretar um alargamento da brecha entre o consumo e a oferta tão temida pelo BC.

Uma elevação da taxa de inflação, embora permanecendo dentro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, pode ter resultados altamente negativos. Além disso, não se pode ignorar que grande parte da inflação é importada, ela ocorre no mundo todo, como ficou claro na reunião do FMI, em Washington, na semana passada. A elevação da Selic, não teria, pois, o menor efeito sobre a inflação e obrigaria o Copom, nas próximas reuniões, a optar por aumentá-la de novo.

É esse processo de alta continuada da Selic que devemos temer, desencadeado por uma interpretação errônea das causas da inflação atual.

Se o BC teme o alargamento da diferença entre consumo e produção, deve sugerir com firmeza uma redução do consumo: do governo, em primeiro lugar, mas também das famílias, que são mais sensíveis aos prazos dos créditos do que a um aumento dos juros.

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