Título: Auditores decidem hoje se mantêm a greve
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2008, Nacional, p. A5

Brasília, 18 de Abril de 2008 - Os servidores da Receita Federal realizam hoje assembléia nacional para decidir se a greve iniciada há um mês será mantida. A expectativa de sindicalistas que lideram o movimento é que a maioria dos 12.500 funcionários ativos do órgão apóie a manutenção da paralisação. Até ontem, o governo e o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Sindical) não haviam chegado a um acordo. Os funcionários do Fisco ainda estão insatisfeitos com a proposta do Executivo. A proposta salarial do governo se aproxima à demanda da categoria. Há, no entanto, algumas pendências. Os auditores fiscais querem receber até R$ 19,7 mil por mês e ter um salário inicial de R$ 13,4 mil. Assim, seus vencimentos seriam igualados aos obtidos pelos delegados da Polícia Federal. Hoje, um auditor fiscal ganha entre R$ 10 mil e R$ 13 mil. O Ministério do Planejamento chegou a oferecer um teto salarial de R$ 19.250. O acordo não foi fechado ainda porque a categoria não aceitou o calendário e as regras de promoção propostos pelo governo. Os auditores exigem que a nova tabela saia até o fim de 2009. A equipe econômica do governo quer executar o aumento em julho de 2010. Além disso, o Executivo reduziu em sua proposta, de 40% para 30%, o percentual de funcionários que podem ser promovidos a cada 18 meses. "Eles pioraram a proposta do sistema de avaliação e de progressão de carreira. Isso cria uma trava para as promoções. Nas nossas contas, um servidor demorará 30 anos para chegar ao fim da carreira", lamentou o vice-presidente do Unafisco Sindical, Gelson Myskovsky. "A previsão é que a nova proposta do governo seja rejeitada nesta sexta-feira." A paralisação prejudica as empresas que dependem do comércio exterior. Em todo o País, só 30% das equipes estão trabalhando. No porto de Santos, os auditores tiveram de flexibilizar a greve para dar maior vazão às exportações e importações. Trocaram a greve por uma operação padrão a fim de reduzir a fila de mercadorias à espera de desembaraço. Em uma operação padrão, todos os funcionários trabalham e os procedimentos de fiscalização são feitos de forma completa. Em dia normal, as inspeções são feitas por amostragem. Só 10% dos produtos são analisados. No posto fiscal de Paranaguá (PR), estima o Unafisco Sindical, há um acúmulo de mais de US$ 1 bilhão em produtos parados. Fabricantes de automóveis e autopeças já alertaram que a greve prejudicará o setor. Outros segmentos também sofrem o impacto da paralisação. Produtos em algumas lojas de free shop dos aeroportos brasileiros, por exemplo, estão em falta. A greve dos funcionários da Receita Federal foi fortalecida pela decisão de anteontem do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O ministro concedeu liminar ao Unafisco Sindical proibindo o governo de descontar o salário dos grevistas. O Ministério do Planejamento havia suspendido o pagamento dos auditores que aderiram ao movimento. Para Maia Filho, "é fundamental que a situação seja resolvida, pois a tendência é a radicalização do comportamento das partes, com prejuízos sensíveis e enormes para todos, especialmente para a sociedade civil". Repercussão internacional A greve já tem repercussão internacional. A direção do Unafisco Sindical foi procurada nos últimos dias pela embaixada da Argentina. O governo do país vizinho demonstrou preocupação com os efeitos do movimento para a sua economia. O receio tem justificativa: a Renault da Argentina, por exemplo, suspendeu atividades de uma de suas unidades devido à falta de insumos e a dificuldades na exportação de carros para o Brasil. No Brasil, as fabricantes de produtos eletrônicos sofreram prejuízos de US$ 150 milhões com a greve que já dura um mês, segundo a Bloomberg News. As perdas incluem multas que as fabricantes pagaram por não terem sido capazes de entregar produtos prometidos em contratos e os custos com funcionários que ficaram de licença devido à escassez de peças. "Temos uma série de fábricas que estão sendo obrigadas a interromper a produção devido à greve", disse Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Há cerca de US$ 500 milhões em componentes eletrônicos aguardando liberação para entrar no país devido à greve, disse Barbato. Ele e Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), se reuniram com autoridades do governo ontem em Brasília para tentar resolver a questão. "Os custos são simplesmente altos demais", disse Kiçula. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Fernando Exman)