Título: As vendas do varejo e o Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2008, Economia, p. B2

O Comitê de Política Monetária (Copom) já poderá levar em conta, na decisão que tomará hoje sobre a taxa Selic, os dados sobre o comércio varejista de fevereiro divulgados ontem pelo IBGE. Mas, por causa da melhoria dos dados fornecidos, estará diante de uma escolha difícil.

O Copom costumava comparar os dados da produção industrial, que em fevereiro caiu 0,5%, com os do comércio varejista não ampliado, que em fevereiro teve queda de 1,5%, dando a impressão de que a oferta superou a demanda. Todavia, pela primeira vez, o IBGE, em razão da obtenção de um número mínimo de observações necessárias para calcular a dessazonalização, apresentou dados de todas as atividades que compõem o varejo ampliado. Entraram na estatística os dados da venda de veículos e de material de construção, com o que o comércio varejista apresentou, em fevereiro, um crescimento, na margem, de 1%, superior ao da produção industrial. Convém levar em conta que a queda de 1,5%, na margem, do comércio não ampliado em fevereiro se seguiu ao grande movimento das liquidações de janeiro. Assim, não é de estranhar que a maior queda ocorreu nos setores de vestuário (-4%) e de supermercados, produtos alimentícios e bebidas (-3,9%) - este último setor representando 30,5% do total do comércio varejista não ampliado. A única anomalia encontra-se no setor de equipamentos de informática e comunicações, que apresentou crescimento de 9,85%, mas cujo peso é de apenas 4,5%.

A situação muda totalmente quando se considera o comércio varejista ampliado, em que se incluem veículos, motos e material de construção. O comércio varejista, neste caso, teve um crescimento, na margem, de 1%. Isso se deve ao peso excepcional dos setores automobilístico (50,5%) e de material de construção (6,1%), que aumentaram, respectivamente, 2,2% e 4,4%, na margem.

Sabemos que a indústria automobilística está engajada num vasto programa de investimentos para aumentar sua capacidade de produção. Portanto é preciso considerar o peso excepcional desse setor e do de material de construção no comércio em geral, que mostra como as facilidades de crédito estão afetando as decisões dos compradores.

Cabe às autoridades monetárias, hoje, interpretar com a devida prudência esses dados do comércio, que, seguramente, indicam que o varejo terá um ano bom em 2008, sem que isso signifique que esteja causando pressões inflacionárias.

Links Patrocinados