Título: Audácia e responsabilidade do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2008, Economia, p. B2

O Comitê de Política Monetária (Copom) tomou a decisão já esperada e até foi além da maioria das previsões ao optar pelo aumento de 50 pontos de porcentagem (p.p.) da taxa Selic.

Já não cabe divergir da decisão, mas destacar o clima em que foi tomada. Os membros do Copom fizeram sua opção em meio a grande hostilidade, tanto das entidades de classe como dos políticos. Tendo isso em vista, pode-se dizer que o BC reafirmou sua independência com certa audácia, o que, avaliado em perspectiva, é um fato positivo. Não há dúvida também de que as autoridades monetárias assumiram uma tarefa que caberia ao governo - a de restringir o ritmo de crescimento da demanda reduzindo os gastos públicos. Seria necessário, apenas, que o BC deixasse claro que é a recusa do governo em ser austero nos dispêndios que impõe a decisão impopular.

Mas o BC terá de comprovar também, daqui a alguns meses, o acerto da sua decisão e mostrar que os críticos não tinham razão. São numerosas as críticas sobre o efeito da decisão nos rumos da economia.

A primeira é que a alta da taxa Selic, dada a natureza da atual pressão sobre os preços, com origem no exterior, não vai contribuir para reduzi-la e, ao contrário, poderá até realimentá-la.

Não há uma inflação insuflada por demanda interna, que só poderia ocorrer como resultado da insuficiência de investimentos. Estes é que, agora, podem reduzir-se, por causa da alta dos juros. Aliás, antes mesmo de ser decidida, a alta da Selic já produziu elevação das taxas de juros efetivas do sistema bancário. Acreditamos que ela não servirá para conter a demanda num ambiente em que o consumidor está mais atento aos prazos de pagamento do que ao custo do financiamento. O setor produtivo, porém, sentirá o custo maior do crédito, o que limitará o crescimento do PIB e reduzirá a competitividade dos produtos brasileiros no mercado mundial.

Como a decisão do Copom aumenta a diferença entre juros externos e internos, ela favorece as operações de arbitragem que contribuem para a valorização do real ante o dólar, com conseqüências para a balança comercial. Finalmente, a nova Selic representa um custo adicional de R$ 2,9 bilhões da dívida interna.

Ao optar por 50 p.p. de alta, o Copom parece pretender que o ciclo de aumentos seja curto. Há que aguardar a publicação da ata da reunião para aferir a validade dessa hipótese.

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