Título: Setores do governo esperam justificativa na ata do Copom
Autor: Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2008, Economia, p. B3

Suspeita é de que alta de 0,5 ponto foi o primeiro degrau de uma escalada

Com a palavra, a ata da Copom. Essa foi a resposta de setores do governo ainda atônitos com a decisão ¿política¿ e ¿surpreendente¿ do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de elevar em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros, fixada ontem em 11,75%.

Os argumentos que serviram de munição para tentar interferir na decisão do Copom permanecem e estão reforçados, agora, pela suspeita de que esse foi o primeiro degrau de uma nova escalada dos juros.

¿O temor é que os juros continuem aumentando e se coloque um freio nas decisões de investimento, afetando o crescimento da economia¿, disse uma fonte ouvida pelo Estado. ¿No momento, não adianta especular sobre os motivos para a diretoria do Copom ter sido tão drástica. Vamos aguardar a ata dessa reunião¿, acrescentou. A ata da reunião de ontem será divulgada na próxima quinta-feira, dia 24.

Na avaliação de fontes ouvidas pelo Estado, a alta dos juros é um atrativo adicional ao ingresso de capitais estrangeiros. Isso significa que o real continuará valorizado, que se mantém o movimento de capitais externos em busca do ganho financeiro no Brasil e a possibilidade de deterioração das contas externas.

As preocupações com o desequilíbrio das contas correntes (compromissos do País com o exterior) se mantêm. Essa conta está deficitária e deve chegar ao fim do ano, segundo as projeções do Banco Central, negativa em US$ 12 bilhões.

O texto do comunicado ainda não foi bem assimilado. Há interpretações de que o ¿chute¿ de 0,5 ponto porcentual significa que, daqui para frente, a taxa Selic poderá ser reajustada em porcentual menor.

Outras análises passam pelo terreno da necessidade de afirmação da autonomia do Banco Central. Nesse caso, o colegiado do banco marcou posição, inclusive em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na semana passada, Lula disse que não faria muita diferença se o Banco Central aumentasse a Selic em 0,25 ponto porcentual. Embora o presidente, no dia seguinte à declaração, tenha afirmado que não estava referendando um aumento dos juros, no Planalto o entendimento foi o de que Lula teria balizado o Copom. Ou seja, um aumento nesse nível seria compreendido, sem problemas.

EXPECTATIVA RUIM

A diretoria do Banco Central, no entanto, entendeu que o risco de inflação é concreto e uma alta de 0,5 ponto tem potencial para conter a escalada dos preços. O entendimento do Copom, manifestado no comunicado de ontem, é o de que esse nível de alta representa ¿parte relevante¿ do movimento da Selic.

¿Tudo bem que pode ser a parte relevante, mas o problema é que o Banco Central sinaliza para novas altas na taxa de juros¿, ponderou uma fonte do governo. Esse movimento criaria uma ¿expectativa ruim¿ e pode significar uma fonte de alimentação da inflação. Essa linha de raciocínio considera que o simples aumento dos juros produzirá um efeito dominó na economia de aumentos preventivos: temendo a elevação no custo de produção, os empresários poderão recorrer ao aumento de preços para compensar despesas financeiras.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que fez o que pôde para interferir na decisão do Copom, optou pelo silêncio, pelo menos por enquanto. No entanto, entre técnicos do ministério há mesmo apreensão em relação a novas altas da Selic.

¿Foi demais¿, disse um parlamentar da base aliada, referindo-se ao comentário de técnicos do ministério da Fazenda.

O senso comum - contrário ao entendimento do Banco Central - é que a inflação está localizada no setor de alimentos, por exemplo. Trata-se de um pico inflacionário, que vai arrefecer nos próximos meses.

O Banco Central reforçou sua autonomia e, ao mesmo tempo, tornou inequívoco o recado de que não abre mão de agir preventivamente. ¿Só o Banco Central acredita que vem uma inflação galopante por aí¿, sustenta esse parlamentar.

Sem argumentos técnicos para contestar a decisão de ontem e ainda sem entender o ¿economês¿ do comunicado, esses setores do governo aguardam a divulgação da ata, na próxima semana, para tentar entender a motivação do Banco Central.

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