Título: Comércio mundial será afetado pela crise, diz OMC
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2008, Economia, p. B10

Desaceleração de economias ricas não será compensada por emergentes

A crise internacional afeta o comércio. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) indicam que a desaceleração nas economias ricas em 2008 não conseguirá ser totalmente compensada pelas economias emergentes e o comércio deve ter o pior momento nos últimos seis anos, com alta de apenas 4,5%. Para a OMC, as taxas deste ano devem ser comparadas ao desempenho dos anos 80. O forte crescimento dos emergentes conseguirá, na melhor das hipóteses, apenas amortecer uma queda ainda mais forte.

¿Diante dessas constatações, só podemos mesmo é enfatizar que a Rodada Doha precisa ser concluída para que um novo impulso no comércio seja dado¿, disse o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney. ¿Vivemos momentos de incerteza da economia global¿, disse Pascal Lamy, diretor-geral da OMC.

Lamy garante que a crise internacional por enquanto não provocou redução de comércio, e o único efeito tem sido a queda no ritmo de crescimento. Mas alerta que medidas protecionistas podem surgir diante do cenário que políticos estão sendo obrigados a enfrentar. Para ele, mais do que nunca o mundo precisa reforçar suas regras comerciais para lutar contra essa situação.

Em 2007, o crescimento do comércio mundial já foi baixo: cerca de 5,5% em volumes, ante 8,5% em 2006. Neste ano, a queda é ainda maior. O ritmo de expansão ficará em torno da metade do que foi há dois anos: 4,5%.

Segundo a OMC, a queda nas importações dos países ricos é o principal motivo para o novo problema na economia mundial. Nos EUA, as importações cresceram apenas 1% em volume em 2007, a menor alta desde 2001. Em valores, a alta foi de apenas 5%, já indicando recessão. Nos dois primeiros meses, foi de apenas 2%. No geral, os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) terão alta de apenas 3% nas compras externas este ano, 1,5% abaixo de 2007.

O que preocupa é que os emergentes não estão sendo capazes de compensar totalmente a queda no comércio dos países ricos. A Ásia, por exemplo, deve ter desaceleração nas importações. O crescimento do comércio chinês caiu de 29% para 21%.

No ano passado, metade do crescimento no comércio mundial ocorreu graças aos emergentes, e a tendência é de que isso se mantenha. Só EUA e Europa importam quase 40% de tudo o que compra o mundo. Uma recessão nessas economias teria impacto direto em muitos países. Juntos, China, Índia, Brasil, México, Coréia e Rússia são responsáveis por 20% das importações.

Se a crise for contida no estágio em que está hoje, o PIB mundial cresceria 2,6% este ano. A taxa para as economias ricas seria de 1,1%, ante 5% dos emergentes. Mas a OMC tem dúvidas sobre quanto tempo os emergentes conseguirão manter o crescimento sem ser afetados pela crise nos países ricos.

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