Título: Nos Estados Unidos, produtor de milho comemora efeito do subsídio
Autor: Dantas , Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2008, Economia, p. B12

Estimulado pelo benefício, preço do bushel (25,4 quilos) está acima de US$ 5, ante US$ 2 das últimas décadas

Os produtores de milho dos Estados Unidos não se abalam com as críticas ao etanol, e prevêem que a produção vai continuar crescendo, embalada pelo projeto americano de reduzir a dependência do petróleo. Considerado por muitos como um dos piores vilões da alta global de alimentos, o etanol de milho americano conta com um subsídio de US$ 0,51 por galão (3,78 litros) produzido (que vai para as empresas que misturam o combustível à gasolina e para os distribuidores), e uma proteção tarifária de US$ 0,54 por galão contra o etanol brasileiro.

Em janeiro de 2007, o presidente americano, George W. Bush, estabeleceu a meta de cortar o consumo de gasolina em 20% até 2017, basicamente pela substituição por etanol. Há estimativa de que 25% da colheita de milho de mais de 13 bilhões de bushels este ano (330 milhões de toneladas) será consumida para a produção de etanol, reduzindo as exportações e elevando o preço da commodity, que é uma das principais bases das rações animais.

Para os plantadores de milho do Meio-Oeste americano, porém, está tudo muito bem. O preço do bushel (25,4 quilos) ultrapassou US$ 5, muito mais que o nível em torno de US$ 2 que prevaleceu durante décadas, o que obviamente é tudo o que um agricultor deseja. ¿É muito bom para a nossa renda¿, diz Ken McCauley, presidente da Associação Nacional dos Plantadores de Milho.

Em relação à alta do preço dos alimentos, McCauley acha que ¿é preciso ter paciência e esperar o mercado funcionar¿. Com isso, ele quer dizer que a lucratividade do milho, no preço atual, está levando a um aumento da produção, o que deve causar um recuo nos preços. Na sua fazenda no Kansas, ele aumentou a área plantada de milho de 3 mil acres (1,2 mil hectares) para 3,2 mil acres (1,3 mil hectares) entre 2007 e 2008. Os produtores americanos também lembram que há um resíduo na fabricação do etanol, que é utilizado em rações animais.

PETRÓLEO E ENERGIA

Michael Ott, diretor-executivo da Biowa, uma associação de produtores de etanol, biodiesel e produtos de base biológica com sede em Iowa, admite que 25% a 30% da alta internacional do preço dos alimentos poderia ser atribuída à corrida pelos biocombustíveis. Mas ele destaca que a maior parte do aumento provém do crescimento da demanda mundial e da alta do petróleo e da energia, que encarece o transporte, um dos maiores custos do agronegócio.

Segundo McCauley, os preços das matérias-primas agrícolas correspondem a apenas 20% do custo médio da comida. O restante fica por conta da mão-de-obra, do transporte e de outros custos, como embalagem. Ele frisa que o transporte, em particular, disparou por causa do preço dos combustíveis. McCauley diz que a alta do milho está, inclusive, reduzindo a lucratividade do etanol.

Julius Schaaf, chairman do Conselho de Promoção do Milho de Iowa, apresenta cálculos para demonstrar que o subsídio ao etanol do milho é altamente compensador para a economia americana. Os gastos anuais com os subsídios ao etanol estão na faixa de US$ 6,3 bilhões a US$ 8,7 bilhões, enquanto a economia de 45 cents por galão proporcionada pela adição do etanol à gasolina em 2007 (ele cita um estudo que demonstraria isto) teria representado um ganho de US$ 60 bilhões no ano passado para os americanos. ¿É um investimento bastante bom, você não acha?¿, pergunta Schaaf. Segundo McCauley, os ganhos do setor agrícola americano, e do segmento de etanol em particular, estão ajudando a sustentar a economia do país em um momento difícil.

Os produtores americanos de etanol deixam claro que a proteção tarifária é de fato para evitar que o produto brasileiro, feito de cana-de-açúcar, seja o grande beneficiário da decisão americana de misturar o combustível à gasolina. ¿Se não tivéssemos esta proteção, estaríamos ajudando a desenvolver o etanol brasileiro, o que não é a nossa intenção¿, diz Schaaf.

O custo do etanol de cana é cerca de 25% inferior ao de milho, além de consumir inúmeras vezes menos energia, e ter uma produtividade por hectare substancialmente maior. Schaaf acrescenta que a proteção americana não estaria prejudicando o Brasil, porque há um enorme mercado mundial se abrindo para o etanol.

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