Título: Equívoco está na produção do etanol de milho
Autor: Monteiro,Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2008, Economia, p. B13

Em Gana, presidente começa cruzada em defesa da produção a partir da cana e critica os Estados Unidos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu discurso de improviso ao lado do presidente de Gana, John Kufuor, para criticar os americanos por terem decidido produzir álcool a partir do milho, contribuindo, assim, para a polêmica de que os biocombustíveis estariam ajudando a elevar a inflação de alimentos do mundo. ¿Na política de biocombustíveis só tem um equívoco: a decisão americana de produzir álcool do milho¿, declarou Lula, atribuindo a alta do preço dos alimentos ao custo do frete causado pelo elevação do preço do petróleo.

Lula está em uma verdadeira cruzada pelo mundo para derrubar a tese, defendida por países europeus ,de que a produção de alimentos está sendo substituída pela produção de matéria-prima para os biocombustíveis. Ele afirmou ontem que é preciso ¿acabar com esse preconceito contra o Brasil¿.

O presidente brasileiro vai bater nessa tecla, nos discursos que fará a partir deste domingo, na Unctad, agência da ONU para comércio e desenvolvimento. Nos encontros que tiver com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, Lula vai defender novamente essa tese e pedir o seu apoio. Parece que essa tarefa não será difícil (ler ao lado).

¿O Brasil está provando que é possível produzir biodiesel e crescer a produção agrícola na área de grãos, como vamos crescer este ano¿, avisou Lula. Ele pediu que os países africanos entrem nessa discussão.

Para Lula, os países pobres ¿não querem benevolência¿, querem acesso à tecnologia e financiamento para produzir os alimentos que o mundo precisa. Segundo Lula, os países em desenvolvimento têm de se preparar para ¿enfrentar essa verdadeira guerra comercial¿ em relação aos produtos agrícolas.

Uma das batalhas ocorre na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde os países em desenvolvimento querem que os países ricos reduzam seus subsídios, para flexibilizar a entrada de produtos agrícolas dos países pobres. Lula respondeu ainda à União Européia e aos países desenvolvidos em geral que têm demonstrado ¿preconceito¿ em relação aos biocombustíveis.

O presidente salientou que não quer liderar, mas participar desse debate e avisou que ¿não aceitará que, uma vez mais, os países pobres paguem a conta¿ da acusação de os biocombustíveis são a causa do crescimento do preço dos alimentos.

Depois de salientar que sua crítica ao uso de milho pelos EUA para os biocombustíveis vale para esse ¿ou qualquer outro produto que sirva de ração animal¿, comentou que os americanos produzem o etanol daquilo que eles dispõem, e brincou: ¿Gostaria que eles não produzissem, mas comprassem do Brasil, da cana-de-açúcar¿.

¿Respeitando a autonomia e a decisão de cada país, o que é recomendável é que a gente produza os bicombustíoveis de produtos que não sejam alimentos para a produção¿, disse. ¿Nós temos terra, temos tecnologia e acho que o momento é importante porque nós vamos tentar acabar com o preconceito que se vende contra o Brasil.¿

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