Título: Lugo lidará com inédita divisão de poder
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2008, Internacional, p. A10

Novo governo de coalizão reunirá partidos da extrema esquerda à direita

Quando no dia 15 de agosto o ex-bispo Fernando Lugo tomar posse no Palácio de López, estará à frente de um governo de coalizão, algo pouco freqüente na política paraguaia, acostumada aos caudilhos influentes e partidos hegemônicos.

Líder da Aliança Patriótica para a Mudança (APC) - uma colcha de retalhos que une a extrema esquerda à direita -, Lugo terá de conviver com uma inédita divisão do poder no Parlamento e nos departamentos do país.

Os dados preliminares sobre a composição do Senado indicam que do total de 45 cadeiras, o seu governo contará com 16 - número equivalente ao do derrotado Partido Colorado, que governou o país nas últimas seis décadas.

O problema para Lugo é que das 16 cadeiras da sua aliança, 13 correspondem ao conservador Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA). A União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), do general golpista Lino Oviedo, contaria com 9 vagas, enquanto que o Pátria Querida, liderado pelo empresário Pedro Fadul, teria 4.

O peso do PLRA torna Lugo refém desse partido, que também ganhou em 7 dos 17 departamentos (os outros 10 estão nas mãos dos colorados). Ao mesmo tempo, a capacidade de Lugo de conciliar tendências ideológicas diversas é essencial para impedir a desintegração de sua coalizão.

¿Ninguém foi embora dessa aliança em oito meses de campanha¿, disse ao Estado o cientista político paraguaio Alfredo Boccia. ¿Lugo consegue dar um tapinha das costas da burguesia ao mesmo tempo que dá piscadela para a esquerda¿, completou.

Segundo Boccia, além de enfrentar a oposição no Parlamento - onde nenhum partido conseguiu maioria - e nos departamentos paraguaios, Lugo terá o desafio de lidar com os setores sociais que simpatizam com os colorados. ¿Oito de cada dez funcionários públicos são colorados, bem como muitas associações de empresários, agricultores e pecuaristas¿, afirma Boccia.

MODERAÇÃO

Para o analista, nos quase quatro meses que faltam para a posse, Lugo deve tentar convencer os paraguaios e a comunidade internacional de que não será um radical no governo. ¿Ele não sabe lidar com as massas como o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Não é bom orador, mas tem uma grande capacidade de compor alianças¿, afirma Boccia. ¿ Lugo é um equilibrista e para manter o equilíbrio, precisa ficar no centro. Essa será a via paraguaia.'

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