Título: Colorados culpam presidente por fim de hegemonia
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2008, Internacional, p. A11
Derrota de partido em eleição presidencial, a primeira em 61 anos, dá início a divisões e onda de acusações
Perplexos com a derrota que sofreram nas eleições de domingo, fato sem precedentes em mais de seis décadas, os colorados, como são denominados os militantes da Associação Nacional Republicana (ANR), mais conhecida como Partido Colorado, tentavam ontem entender os motivos do fracasso nas urnas e lançavam acusações sobre os supostos responsáveis. Diversos líderes, como o senador eleito e ex-vice-presidente Luis Castiglioni, culpavam o presidente Nicanor Duarte pela ampla derrota do centenário Partido Colorado ante a Aliança para a Mudança, uma coalizão de apenas oito meses de existência.
Castiglioni começou a criticar duramente Duarte e a candidata governista à presidência, Blanca Ovelar (que obteve apenas 30% dos votos), ainda na tarde de domingo, quando faltavam três horas para o encerramento das urnas. Ele declarou que sua facção do partido, a Vanguarda Colorada, será o núcleo que reformará os colorados.
O ex-vice apresentava-se como a ¿renovação¿ do partido antes das eleições. Com a derrota, suas chances aumentam. Analistas consideram que ele poderia dar ao partido, conhecido pelo clientelismo, uma guinada neoliberal.
EXPURGO
Os colorados sofreram um duro golpe, mas ainda mantêm uma estrutura de poder. Eles controlarão 10 dos 17 departamentos (Estados), terão um terço do Senado e possivelmente outros 33% da Câmara. Mas analistas indicam que, com a derrota, os colorados, além de um processo de expurgo em suas fileiras, também sofrerão um êxodo em direção ao novo foco do poder, a Aliança Patriótica para a Mudança, do presidente eleito Fernando Lugo.
O ex-bispo Lugo já anunciou que não pretende excluir nenhum partido de seu governo. Isso foi interpretado como um aceno a diversos setores mais progressistas dos colorados. Outros colorados, no entanto, deverão rumar para a União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), do general golpista Lino Oviedo, que criou essa legenda com dissidentes da ala direita do Partido Colorado.
Desde 1947 o Paraguai só foi governado por presidentes colorados. Ao longo desse período, a estrutura partidária acabou se misturando com o aparato do próprio Estado paraguaio. Do total de 6,1 milhões de habitantes do país, os filiados ao partido somam 1,8 milhão. Estimativas indicam que entre 60% e 80% dos funcionários públicos têm a carteirinha colorada.
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