Título: Brasil admite negociar tarifa de Itaipu
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2008, Economia, p. B1

Segundo o ministro Celso Amorim, governos brasileiro e paraguaio vão discutir `a maneira de fazer¿ o reajuste

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou ontem que o Brasil vai mesmo abrir negociações formais para reajustar o preço da energia elétrica de Itaipu comprada do Paraguai. A decisão política está tomada, e, segundo o ministro, o que o governo vai discutir agora com o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, ¿é a maneira de fazer (o reajuste)¿.

Em entrevista concedida em Acra, capital de Gana, antes de embarcar para o Brasil, Amorim deixou claro que o objetivo das negociações é saber como o Paraguai ¿pode obter uma remuneração adequada para a sua energia.¿ ¿Isso é justo¿, afirmou. O Brasil quer fazer isso, como disseram Amorim e o presidente Lula, sem reescrever o Tratado de Itaipu: ¿Não muda o contrato¿, disse Lula. ¿Em Itaipu, temos um tratado e ele vai se manter.¿

O Tratado de Itaipu formalizou a sociedade entre Brasil e Paraguai, com a inauguração da usina, em novembro de 1982. Pelo acordo, os dois países dividem igualmente o que é produzido, mas o Paraguai, que só consome 5% da energia, é obrigado a vender ao Brasil os 95% restantes da sua cota. Ano passado, o Brasil pagou US$ 307 milhões pela energia paraguaia de Itaipu, mas Fernando Lugo chegou a falar, durante a campanha eleitoral, em um valor anual ¿justo¿ em torno de US$ 2 bilhões.

¿Devemos fazer com que o Paraguai obtenha o máximo de benefício em função da sociedade que eles têm conosco em Itaipu¿, disse Amorim. O ministro fez questão de lembrar um precedente, que não exigiu nenhuma mexida no tratado: ¿Há uns anos, houve um reajuste numa parcela de compensação pela energia do Paraguai porque estava defasada.¿

Fazendo coro a uma entrevista dada minutos antes pelo presidente Lula, que defendeu que o Brasil, ¿como maior economia da América Latina¿, ajude os vizinhos mais pobres, Amorim disse considerar ¿um absurdo que o Paraguai, sendo sócio da maior hidrelétrica do mundo¿ tenha uma fornecimento de energia ¿tão ruim em Assunção¿ e não possa investir em linhas de transmissão que façam o fornecimento regular de energia.

Questionado sobre a possibilidade de o Brasil enfrentar no Paraguai os problemas que enfrentou na Bolívia com a exploração, produção, distribuição e exportação de gás pela Petrobrás, Lula minimizou: ¿Não aconteceu nada com a Bolívia, gente. Aconteceu aquilo que eles entenderam que era importante para eles.¿

Amorim também abordou a possibilidade de eventuais prejuízos brasileiros, disse que o governo não se comporta assim nem por ser ¿paternalista¿ nem ¿bonzinho¿ e acrescentou: ¿A paz na região não é em detrimento do nosso País. Ninguém vai ceder a chantagem.¿

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