Título: Para exportar mais
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2008, Notas e Informações, p. A3

De acordo com relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil passou, em 2007, do 24º para o 23º lugar entre os maiores países exportadores do mundo. É um avanço, embora não se tenha confirmado o otimismo do governo que, há um ano, previa que o País estaria entre os 20 maiores exportadores.

O relatório da OMC mostra uma situação bastante confortável do Brasil no cenário mundial, mas revela também que, se não avançar mais depressa na conquista de espaços no mercado externo, o País se distanciará dos demais países que compõem o grupo conhecido como Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), que tem merecido atenção especial dos investidores internacionais.

Como outros países emergentes, o Brasil tornou-se menos dependente das economias industrializadas para desenvolver seu comércio exterior. Diversificou seus mercados, ganhou com a valorização das commodities e, assim, ficou menos vulnerável à crise americana.

Dos quatro países do Bric, o Brasil é o terceiro maior exportador, à frente da Índia. No ano passado, as exportações brasileiras totalizaram US$ 161 bilhões, 17% mais do que o total exportado em 2006. Já as exportações da Índia, que totalizaram US$ 145 bilhões, foram 20% maiores do que as de 2006. Com exportações de US$ 1.218 bilhões em 2007, a China ficou em segundo lugar entre os maiores exportadores do mundo (atrás apenas da Alemanha, que exportou US$ 1.327 bilhões, e à frente dos Estados Unidos, com vendas externas de US$ 1.163 bilhões). Apesar de já enormes, as exportações chinesas cresceram 26%, bem mais do que as brasileiras. Entre os Brics, só a Rússia registrou crescimento igual ao brasileiro (17%), mas suas exportações somaram US$ 355 bilhões no ano passado.

Embora não seja pequeno, e justifique o otimismo das autoridades com relação à balança comercial do País, o crescimento das exportações brasileiras é menor ou igual ao dos demais Brics. Mantida essa tendência, o Brasil não alcançará a Rússia, ficará cada vez mais distante da China e poderá até ser superado pela Índia.

Não é apenas no grupo Bric que o desempenho das exportações brasileiras é ofuscado. Também é modesto na comparação com os países industrializados. A Alemanha, por exemplo, que continua a liderar a classificação dos maiores exportadores mundiais, conseguiu expandir em 20% suas vendas externas no ano passado. Outros países industrializados que estão à frente do Brasil na classificação da OMC aumentam suas exportações num ritmo mais intenso do que o nosso. As exportações da Holanda aumentaram 19%; as da Itália, 18%; e as da Áustria, 19%.

É preciso destacar, também, que o bom resultado do Brasil em 2007 se deveu, em grande parte, à alta dos preços das commodities. Quando se considera o volume exportado, o desempenho do Brasil é bem mais modesto, com aumento de apenas 6,9% no ano passado, o menor entre os Brics.

Outro aspecto desvantajoso das exportações brasileiras é sua forte dependência de produtos primários. ¿Obviamente, os fazendeiros estão felizes¿, observou o economista da OMC Michael Finger. ¿Mas é necessário ouvir o que dizem os demais setores. Toda a economia precisa lucrar.¿

O setor industrial, por exemplo, reclama que a desvalorização do dólar em relação ao real, que retirou a competitividade de seus produtos no exterior, já o ameaça até no mercado interno. Estimuladas pela taxa de câmbio favorável e pela demanda interna aquecida, as importações brasileiras cresceram 32% no ano passado, de acordo com o relatório da OMC. Entre as 30 maiores economias do mundo, só na Rússia as importações cresceram mais do que no Brasil (50%).

Para compensar a valorização do real, que pode ser duradoura, o Brasil precisa garantir maior competitividade aos produtores brasileiros, melhorando a infra-estrutura e oferecendo condições para aumentar a produtividade, sobretudo do setor industrial. Precisa também oferecer um ambiente mais favorável aos investimentos, com regras mais estáveis e menos impostos.

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