Título: Religioso Fernando Lugo é eleito novo presidente do Paraguai
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2008, Internacional, p. A14

Ex-bispo põe fim à hegemonia do Partido Colorado ao vencer a rival Blanca Ovelar por 10 pontos porcentuais

O religioso Fernando Lugo foi eleito ontem presidente do Paraguai, colocando fim à hegemonia de mais de seis décadas do Partido Colorado.

Candidato pela heterogênea coalizão Aliança Patriótica para a Mudança, que reúne partidos de extrema esquerda e centro-direita, Lugo obteve 40,8% dos votos, com 92% das urnas apuradas. Ele derrotou a candidata Blanca Ovelar, do governista Partido Colorado, que ficou com 30,7%. O ex-general Lino Oviedo ficou em terceiro, com 21,9% dos votos.

Enrolado em uma bandeira paraguaia, o monsenhor Lugo (atualmente sob suspensão temporária do Vaticano) saudou centenas de partidários que festejavam em frente à Hotel Granados Park, no centro de Assunção. ¿Escrevemos hoje um novo capítulo da história política da nossa nação¿, afirmou o religioso. ¿Vamos fazer com que o Paraguai seja conhecido por sua honestidade e não por sua corrupção.¿

¿Há alguns meses nem sonhávamos que isto poderia acontecer, que um grupo de sonhadores políticos poderia se juntar e colocar o país em primeiro lugar¿, disse. ¿Hoje posso afirmar que os pequenos podem vencer. Este é o Paraguai de meus sonhos, o Paraguai de muitas cores e muitos rostos.¿

O bispo também deu um recado aos cidadãos que emigraram para o exterior ao longo dos últimos anos (mais de 10% do total da população), dizendo que conta com eles para construir ¿um novo país¿.

Lugo agradeceu a seus partidários, afirmando que eles eram responsáveis ¿pela alegria da maior parte do povo¿ paraguaio. Na véspera, ele havia profetizado em tom pastoral que a vitória seria sua: ¿O domingo é o dia da ressurreição. E o Paraguai ressuscitará nas urnas.¿

A celebração continuou com fogos de artifícios e caravanas de carros no centro da capital. Na Rua Palmas, um das principais vias de Assunção, milhares de pessoas acotovelavam-se para celebrar a vitória do bispo. No meio da multidão, bandeiras brasileiras e argentinas eram agitadas juntamente com as paraguaias.

Já a sede do Partido Colorado permanecia praticamente vazia. No local, Blanca, ex-ministra da Educação do presidente Nicanor Duarte, reconheceu a derrota com pouco mais de metade dos votos apurados. ¿As projeções estão avançadas e o resultado é irreversível. Reconhecemos a derrota¿, afirmou a candidata com a voz embargada. ¿Quero agradecer todos os votos nesse momento cívico que vivemos¿, disse.

Logo em seguida, o ex-general Lino Oviedo, da União Nacional de Cidadãos Éticos, também admitiu que havia perdido. ¿Tenho de aceitar as regras democráticas. Estou contente porque houve troca (no governo), mesmo que não seja comigo. Não vou ser egoísta¿, disse o ex-militar, que na década de 90 tentou dois golpes de Estado e nos últimos anos optou pela via das urnas para conquistar o poder. Ele também pediu que o novo governo atue sem discriminação e ¿sem gente corrupta¿.

A rapidez de Blanca - e, conseqüentemente, do governo - em reconhecer a derrota surpreendeu os analistas e ajudou a evitar tensões entre partidários de Lugo e do Partido Colorado.

De acordo com o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral do Paraguai, a participação foi de 65,7%, de um total de 2,86 milhões de eleitores.

Logo após o fechamento das urnas, às 16 horas (17 horas no horário de Brasília), pesquisas de boca-de-urna já indicavam a vitória de Lugo, porém com uma vantagem pequena, de 3 pontos porcentuais, em relação a Blanca.