Título: ONU defende o etanol e ataca os subsídios agrícolas dos países ricos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2008, Economia, p. B1

Petróleo e protecionismo comercial são responsáveis pela crise dos alimentos, diz Ban Ki Moon, secretário-geral

Já temendo guerras por alimentos e a queda do crescimento por causa da falta de comida, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, atacou ontem os especuladores e as políticas agrícolas dos países ricos. Para ele, o petróleo, os subsídios e o protecionismo comercial, e não o etanol, estão entre os responsáveis pelo atual caos.

Falando na abertura da Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio, em Acra (Gana), Ban anunciou a criação de um grupo de personalidades para estudar soluções para a crise de alimentos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se dispôs a enviar técnicos para a ONU.

Ban ainda apelou para que haja um plano internacional para evitar um caos e deixou claro que o mundo corre o risco de ver os esforços da última década para reduzir a pobreza fracassarem diante da alta nos preços de alimentos. ¿Precisamos de uma revolução verde.¿

O chefe da diplomacia da ONU não hesitou em criticar os países que adotam medidas de restrição às exportações. ¿O primeiro dever de um governo é alimentar sua população. Mas esses governos precisam resistir ao protecionismo. Os mercados internacionais devem ficar abertos e funcionando normalmente¿, apelou Ban Ki-Moon. Segundo ele, uma ¿guerra por alimentos não ajudará ninguém¿. ¿Mais comércio, e não menos, é o que nos vai tirar do buraco em que estamos.¿

Ban não disfarça a preocupação da ONU com o problema. ¿O mundo enfrenta uma emergência e precisa tomar medidas urgentes para evitar conseqüências políticas e para segurança¿, afirmou. Ele qualificou a alta nos preços dos alimentos de um ¿verdadeiro tsunami¿.

¿O problema é sério¿, disse. Em seis meses, a ONU indica que os preços dos alimentos aumentaram em mais de 50%. ¿O arroz tem um novo recorde a cada dia e os protestos estão cada vez mais violentos¿, alertou, lembrando que o número de países barrando as exportações vem se proliferando.

Para Ban, não há dúvidas de que a alta nos alimentos pode simplesmente eliminar os esforços dos últimos anos para reduzir a pobreza do mundo. Segundo ele, se a ONU e a comunidade internacional não mudarem de estratégia, milhões voltarão para a condição de miséria e as metas do milênio não serão atingidas. ¿Corremos o risco de voltar à estaca zero. Estamos em uma era de aumento de incertezas econômicas e ninguém deve ser deixado para trás.¿

Ban, como já antecipou o Estado, rejeitou as teorias que apontam o etanol como responsável pela alta nos preços. Para ele, o custo do petróleo, dos transportes e as secas tiveram importantes impactos. Além disso, o maior consumo de alimentos, especialmente na Ásia, e a especulação financeira são elementos que têm agravado a situação.

Ban fez ainda um alerta para os países ricos. ¿Chegou o momento das nações ricas repensarem os programas velhos e fora de moda de subsídios agrícolas.¿ Para ele, não há dúvidas de que essa prática contribui para a emergência, distorcendo mercados e punido os mais pobres.

Para a ONU, está na hora de a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) ser concluída e de os subsídios serem eliminados. ¿Se não conseguirmos eliminar essas relíquias agora com os preços altos, quando conseguiremos?¿, questionou o secretário-geral.

Essa avaliação é compartilhada pelo Itamaraty, que acredita que nunca houve um momento tão propício como agora para a conclusão da Rodada Doha, exatamente pela pressão causada pela inflação dos alimentos.

SINAL DE ALERTA

Ban Ki-Moon Secretário-geral da ONU

¿O primeiro dever de um governo é alimentar sua população. Os mercados internacionais devem ficar abertos e funcionando normalmente.¿

¿Uma guerra por alimentos não ajudará ninguém.¿

¿O arroz tem um novo recorde a cada dia e os protestos estão cada vez mais violentos.¿

¿Mais comércio, e não menos, é o que vai nos tirar do buraco em estamos.¿

¿Chegou o momento das nações ricas repensarem os programas velhos e fora de moda de subsídios agrícolas.¿

¿Se não conseguirmos eliminar essas relíquias agora com os preços altos, quando conseguiremos?¿