Título: Defasagem pode forçar reajuste em breve, diz analista
Autor: Xavier, Luciana; Ferreira, Nathalia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2008, Economia, p. B3

Previsão é do economista Fábio Silveira, que calcula diferença de 18% no preço da gasolina e 25% no diesel

A disparada do preço do petróleo deve aumentar a defasagem entre os preços praticados no Brasil e no mercado internacional e poderá levar a Petrobrás a reajustar os combustíveis em breve. A previsão é do economista Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. ¿Não descartaria a hipótese de reajustes¿, disse Silveira, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo.

Segundo o economista, a defasagem no preço da gasolina é, em média, de 18%, enquanto a do óleo diesel chega a 25%. Ele ressalta, no entanto, que os reajustes não viriam nessa magnitude. ¿Se viessem, poderíamos esquecer a meta inflacionária¿, observou. Para ele, os reajustes virão em parcelas, com um primeiro de cerca de 5%. ¿Depois de 3,4 ou 5 meses, (a Petrobrás) poderia pensar em outro reajuste e jogaria a pressão inflacionária para o ano que vem.¿

Silveira disse ainda que o petróleo é hoje o maior risco para a inflação global, e algumas commodities agrícolas, como açúcar, soja e café, e metálicas atingiram o auge dos preços em março e podem parar de subir daqui para frente.

Na opinião do economista, está cada vez mais difícil prever um teto para o petróleo, e os preços podem ¿ir para a lua¿ com o descontrole do mercado financeiro. ¿Nesse estágio de ultranervosismo, podemos esperar tudo. Trata-se de um mercado que perdeu o referencial e não há preço de equilíbrio.¿

Segundo ele, é possível que nos próximos dias a commodity supere os US$ 120, podendo chegar perto de US$ 125. Hoje, o barril na Bolsa de Nova York (Nymex) bateu o recorde de US$ 119,90. ¿Há efeito manada, com investidores bastante desorientados. Há incerteza muito grande, apesar da ação do Fed (BC americano), do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco Central da Inglaterra (BOE). ¿Todas as ações atenuam, mas não removem o temor de que notícias piores poderão surgir¿, comentou.

POSIÇÃO DIFÍCIL

Para Silveira, os bancos centrais estão agora em posição difícil, com a alta de petróleo representando ameaça à inflação de um lado e sinais de recessão nos Estados Unidos e desaceleração na Europa de outro. ¿O Fed não pode elevar os juros. A Europa hesita em subir muito os juros. É uma situação bastante complexa.¿

O economista acredita que a maior parte da alta do petróleo se deve à especulação, e não ao aumento da demanda de países como a China, como justificam alguns analistas. Se não fosse pela especulação, Silveira calcula que o petróleo poderia estar em cerca de US$ 80.

¿O petróleo está subindo porque o investidor não tem para onde ir e buscará abrigo no mercado de petróleo enquanto for possível ganhar¿, diz o economista.

Silveira espera que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) americano seja negativo no primeiro semestre deste ano. A alta do petróleo deve pesar nos custos das famílias e das empresas, e isso levará a uma redução no consumo e reversão dos preços da commodity nos próximos meses. ¿O ajuste virá via corte de demanda. É uma questão de tempo.¿

Por isso, o economista ainda mantém sua projeção para o petróleo entre US$ 80 e US$ 90 o barril este ano. Quanto ao PIB dos Estados Unidos, a expectativa é de que fique em 0% este ano.

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