Título: Hillary aproveita vitória para expor fraqueza de rival em grandes Estados
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2008, Internacional, p. A20

Ex-primeira-dama insiste na tese de que tem mais chance que Obama de vencer republicanos em centros importantes

A vitória da pré-candidata Hillary Clinton na primária democrata de anteontem da Pensilvânia, por quase 10 pontos de vantagem, reforçou a percepção de que o seu adversário na disputa, o senador Barack Obama, não consegue ganhar nos grandes Estados industriais, muito importantes na eleição presidencial de novembro nos EUA.

Feitas as contas, Hillary deve ganhar apenas entre 14 e 16 delegados a mais que Obama na Pensilvânia. Ela continua bem atrás do senador de Illinois em número de delegados. Contudo, a derrota de anteontem de Obama, aliada a perdas em Ohio, Califórnia, Texas, Nova York e New Jersey, levanta dúvidas sobre a capacidade do senador de bater o republicano John McCain em novembro.

¿Eu ganhei nos Estados onde nós temos de ganhar - Ohio e, agora, Pensilvânia¿, disse Hillary em entrevista à CNN. ¿É muito difícil imaginar um democrata chegar à Casa Branca sem ganhar nesses Estados.¿ Logo após os resultados, seu comitê de campanha enviou e-mails onde dizia: ¿A maré está virando.¿

A campanha de Obama rebate a tese, dizendo que senador ganhou em Estados como Kansas e Virgínia, onde o eleitorado também tem o perfil tradicional democrata. E aponta para pesquisas que mostram Obama vencendo McCain em novembro, enquanto Hillary apenas empata ou perde.

A senadora também começou a insistir na tese - contestada por muitos - de que ela está vencendo no voto popular. Sem contar Michigan e Flórida, Obama ainda lidera no voto popular por 500 mil votos. Mas, contabilizados os votos dos dois Estados, Hillary está na frente. ¿Na realidade, eu tenho mais votos se contarmos o voto popular¿, disse ontem Hillary.

As contas da senadora, porém, descartam as votações nos Estados de Iowa, Maine, Washington e Nevada, que realizaram caucus, cujo resultado é contabilizado em número de delegados, e não em voto direto. Obama venceu em três desses Estados: Iowa, Maine e Washington. Computados todos os votos, o senador pularia novamente à frente, com 122 mil votos. Além disso, em todas as contagens de voto popular Obama aparece sem nenhum voto em Michigan, já que seu nome não constava na cédula eleitoral.

Seja como for, a cartada do voto popular, ainda que deturpada pelos números de Michigan e Flórida, permanece sendo a única saída para Hillary. O problema é que o Partido Democrata não resolveu até hoje qual será o destino desses votos. Os dois Estados foram punidos pelo por terem contrariado as regras e antecipado suas primárias. A punição determina que os delegados eleitos pelos Estados não poderão votar na convenção. Obama e Hillary concordaram com a punição na época. Mas, posteriormente, Hillary passou a pressionar para que os votos dos dois Estados sejam considerados.

A derrota na Pensilvânia ressaltou a dificuldade de Obama de atrair a simpatia do eleitorado branco, da classe trabalhadora, católico e idoso - que são tradicionais eleitores do Partido Democrata. Ele admite uma desvantagem entre os idosos. ¿Esses eleitores têm um histórico de votos para a senadora Hillary¿, disse ontem o senador. ¿Precisamos garantir um bom desempenho nas questões que são importantes para esses eleitores.¿

Os dois candidatos já estão de olho nas próximas primárias, que acontecem no dia 6 de maio, em Indiana e Carolina do Norte. Obama tem vantagem de cerca de 15 pontos na Carolina do Norte, mas em Indiana a disputa está indefinida. ¿Se Hillary não vencer Indiana, a indicação será decidida até o fim de maio; se ela vencer, processo se estende até fim de junho ou até a convenção, em agosto¿, afirmou Michael Gordon, estrategista democrata, que não apóia nenhum dos dois candidatos.

Obama lidera em número de delegados eleitos (1.487 a 1.331), número impossível de ser alcançado por Hillary. Com isso, há duas possibilidades: ou a disputa vai até a convenção e será decidida pelos quase 800 superdelegados, ou algum dos dois candidatos desiste antes de agosto.

Ontem, Hillary comemorou a arrecadação de US$ 3,5 milhões após sua vitória na Pensilvânia. Mas Obama arrecadou US$ 42 milhões em março, diante de US$ 21 milhões de sua oponente. No início da semana, a senadora declarou ter dívidas de US$ 10,3 milhões, e apenas US$ 9,5 milhões em caixa para pagá-las.

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