Título: Coréia do Norte eleva tom contra Seul
Autor: Perez, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2008, Internacional, p. A23

Para especialistas, regime comunista usa retórica hostil como estratégia para testar novo governo sul-coreano

Angela Perez

Depois de um curto período de lua-de-mel, a Coréia do Norte retomou sua dura retórica contra a Coréia do Sul. Anunciou que estava cortando o diálogo com Seul por sua recusa em desculpar-se por declarações de um general sul-coreano consideradas ameaçadoras. Também acusou o novo governo sul-coreano de prejudicar as relações entre os dois países.

Nas últimas semanas, o governo de Pyongyang advertiu seu vizinho de que poderia ¿reduzi-lo a cinzas¿, insultou o novo presidente sul-coreano Lee Myung-bak, chamando-o de ¿charlatão¿, e fez vários testes com mísseis. Mas, para analistas, Pyongyang não deve ir além de seu duro discurso

¿Diante da atual situação da Coréia do Norte, que precisa da ajuda econômica da Coréia do Sul para sua sobrevivência, essa recente série de hostilidades pode ser interpretada como uma tentativa de testar o novo governo sul-coreano¿, disse ao Estado o general da reserva da Coréia do Sul Kwang-chan Ahn, especialista do Belfer Center, da Universidade Harvard.

Donald Gregg, ex-embaixador dos EUA em Seul, também é da opinião de que provavelmente a Coréia do Norte está testando o novo presidente sul-coreano, que assumiu o cargo em fevereiro prometendo adotar uma posição mais dura com a Coréia do Norte do que seu antecessor. O especialista acha que, com sua retórica belicista, Pyongyang também tentou influenciar as eleições parlamentares da Coréia do Sul, no dia 9, que foram vencidas pelo partido do presidente Lee.

No entanto, o general Ahn acredita que a dura retórica de Pyongyang não influenciará a política básica do novo governo, que é, segundo ele, ¿cooperar com a Coréia do Norte apenas quando ela abandonar sua posição volátil e mostrar uma genuína e flexível atitude nas conversações para a paz e a estabilidade na península¿.

Gregg, presidente da organização The Korea Society, disse ao Estado que Pyongyang deve continuar disparando seus mísseis de curto alcance como forma de pressão. Os dois países estão tecnicamente em guerra, já que apenas um armistício foi assinado após o fim do conflito, que durou de 1950 a 1953. No entanto, o então presidente sul-coreano Roh Moo-hyun e o líder norte-coreano Kim Jong-il mantiveram um histórico encontro em outubro, no qual prometeram melhorar as relações entre os dois países.

A tensão entre as duas Coréias ocorre em meio a uma paralisação dos esforços internacionais para acabar com o programa nuclear norte-coreano. O presidente Lee disse que condicionará o envio de ajuda econômica aos progressos da Coréia do Norte no desarmamento nuclear e na melhora da questão dos direitos humanos.

¿O principal objetivo da Coréia do Norte é a sobrevivência de seu regime. Para alcançar esse objetivo, sua estratégia será tentar manter seu programa nuclear e suas armas atômicas. A Coréia do Norte continuará usando seu programa para ameaçar a Coréia do Sul, os EUA e outros países em troca de mais ajuda econômica¿, declarou o general Ahn.

¿Lee quer ser aliado do governo (George W.) Bush e como o presidente americano quer acabar com o programa nuclear norte-coreano antes de encerrar seu mandato (em janeiro), não acredito que o líder sul-coreano vá interferir¿, disse Gregg.

VISITA AOS EUA

O novo chefe de Estado sul-coreano reuniu-se ontem em Washington com o presidente Bush. No primeiro dos dois dias de reunião, os dois líderes conversaram sobre temas econômicos e Lee concordou em retomar as importações de carne dos EUA, suspensas em 2003.

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